Na Terra dos Mortos que Vivem

Prentiss Tucker 

 

 CAPÍTULO IX

 

UMA EXPERIÊNCIA COM ESPÍRITOS DA NATUREZA

 

Os meses seguintes da vida de Jimmie foram como sonhar acordado, uma vida muito ocupada pelas exigências de seu trabalho e matizadas por uma curiosa sensação de que algo estava para acontecer, uma sensação de inquietação, de espera, de pressentimento. Ele escrevia para Louise regularmente e recebia respostas que eram aparentemente, satisfatórias a julgar pelo número de vezes que lia e relia cada carta. Em sua vida “de sono”, que cada vez se tomava mais distinta e real, ele progredia rapidamente.

Todas as noites soltava as amarras e elevava-se para o grande mundo que está invisível ao nosso redor, e todas as vezes que assim fazia ficava mais profundamente impressionado com a exaltação maravilhosa que a “atmosfera” daquele mundo produzia.

Naturalmente, a maioria desta impressão é impossível descrever porque não é para ser comunicada pela linguagem, muito menos pela palavra escrita. Só me ocorre uma maneira pela qual meu sentimento possa tomar-se descritível para aqueles que lerem esta pequena história. Algum dia tiveram um sonho muito real no qual passaram por uma experiência ou aventura maravilhosa? Não se recordam, de um modo vago e muito imperfeito, da mágica “atmosfera” daquele país das fadas que sonharam ter visitado? Não se recordam de como, ao tentar descrever esse sonho, suas palavras eram frias e incolores? Não se recordam de que o fato principal que os entusiasmou sobre o sonho não foi a aventura em si, mas o fascínio estranho, maravilhoso, excitante do acontecimento? Fascinação não é a palavra certa mas, como disse não existe na nossa língua um termo adequado para descrever esses momentos, muito menos a sensação estranha, que sentimos naquele lindo país. É uma sensação que precisa ser experimentada para ser compreendida. Não é possível retratá-la a alguém que ainda não a tenha experimentado. Um homem cego de nascença pode ouvir nossas palavras ao descrevermos a beleza da cor e o esplendor do pôr-do-sol mas para ele essas palavras nada significam. Podemos referir-nos a uma “exuberância de cores” quando temos em mente uma exposição maravilhosa de cores da atmosfera no céu ocidental a medida que o sol se põe.

O homem cego sabe o que “exuberância” significa e tem uma idéia acadêmica do que seja uma cor; mas da combinação, que está tão clara em nossa mente, ele não tem e não pode ter nenhuma concepção.

Assim, para aqueles que não são capazes de visitar aquelas gloriosas regiões, a descrição delas parece-lhes fria. E, o que é mais triste, os fatos que estão fundamentados na familiaridade com essas regiões e suas leis parecem-lhes tolices.

É apenas outra comprovação da afirmação bíblica de que “a sabedoria de Deus é tolice para os homens”. Estamos ainda tão imergidos no egoísmo, mesmo aqueles que mais se orgulham de seu altruísmo, que quando nos deparamos com a verdadeira sabedoria, ficamos como o homem na parábola, “sem palavras”.

Jimmie seguiu fielmente os exercícios matutinos e vespertinos dados a ele pelo Irmão Maior, pois agora podia alcançar sua filosofia e sentia cada vez mais seu extraordinário efeito. Há muito tempo havia parado de fumar e de comer carne. Estas suas renúncias eram fonte de intermináveis indagações por parte de seus companheiros, que não podiam compreender como uma pessoa sã podia parar de comer carne exceto provavelmente, para curar o reumatismo, enquanto parar de fumar era explicado por uma única palavra, “fanatismo”.

Gostava de ir à igreja, não pelas fortes vibrações espirituais que estavam ali presentes, mas também para praticar a leitura das cores nas diversas auras. O sacerdote da igreja, à qual ele geralmente ia, julgava que seus sermões eram a principal atração e interpretou a assistência regular de Jimmie como um elogio para si. Mas Jimmie sabia como todos os ocultistas sabem, que aos domingos as vibrações por toda a terra são diferentes e muito melhores do que as dos outros dias da semana. Jimmie havia visitado, em algumas de suas excursões, terras selvagens e havia observado os diversos ritos religiosos primitivos, e sentia-se em condições de comparar a vibração de lá com a que prevalecia em seu próprio país aos domingos. O grande contraste produziu-lhe a impressão de que a raça ocidental está às vésperas de algo “diferente”.

O tempo transcorria em trabalhos, exercícios, em diversas atividades sociais e cada vez mais em seu absorvente e interessante desenvolvimento espiritual. O terrível desastre russo começou a circular nas notícias diárias e cada vez mais nos pensamentos e palavras dos homens. Às vezes, algumas dessas coisas Jimmie podia observar quando fazia excursões durante suas horas de sono. Mas era dificultado pelo fato de não saber ainda deixar seu corpo conscientemente; portanto, não tinha total poder para escolher o lugar onde suas saídas o levariam. Na verdade, se pensava objetiva e profundamente antes de dormir, conseguia determinar a localidade de sua visita, mas proceder assim, requeria interesse nisso e como nas ocasiões em que visitou o país do antigo Czar, ele não fora capaz de entender nada do que ouvira, esse interesse era mais ou menos moderado quando comparado à saudade intensa de passar seu tempo na linha de batalha com seus antigos companheiros, ajudando de vez em quando um deles a passar para o outro lado, o da morte.

A pergunta que ocorrerá a muitos neste momento, uma indagação perfeitamente natural, é esta: Por que Jimmie não usava seu poder recém descoberto para visitar Louise, uma vez que estava realmente apaixonado por ela e era correspondido?

A razão era dupla. Em primeiro lugar, Jimmie vinha de excelente família e sua educação quando menino foi exemplar, por isso, teria sido impossível para ele ter usado qualquer poder oculto para espionar sua bem-Amada. A outra razão, que funcionaria se a primeira não estivesse presente, era a advertência que o Sr. Campion lhe havia fortemente assinalado, isto é, que a lei oculta não permite o uso do poder oculto para nenhum motivo de curiosidade ou de egoísmo.

Quando uma pessoa está desenvolvendo capacidade de ver nos outros planos e poder viajar por “países estrangeiros”, precisa ter prática. Por esse motivo, é lhe permitido tanto observar as auras e o jogo de cores áuricas nos desconhecidos, como também viajar, examinar terras distantes e observar pessoas e suas vidas, mas unicamente com o objetivo de estudar e praticar. O abuso do poder espiritual acarreta um castigo peculiar e terrível. Mas, excluindo qualquer temor de punição, seria totalmente estranho e detestável à natureza de Jimmie tentar espionar sua namorada. A idéia nunca lhe ocorreu, pois ele era, acima de qualquer dúvida, um cavalheiro.

A única maneira que lhe restava para comunicar-se honradamente com ela, era enviar-lhe um chamado aos planos superiores, mas ele havia prometido não proceder assim, pois ela estava sempre muito ocupada e dormia a intervalos regulares. Se ele a chamasse, ela viria, mas o chamado poderia acontecer exatamente no momento em que sua atenção fosse necessária para alguma operação crítica - que poderia, talvez, custar uma vida. Jimmie havia prometido assim proceder e, sendo um cavalheiro, lealmente cumpria sua promessa. Por conseguinte, seu único meio de comunicação era através do mesmo correio do qual todos namorados americanos tinham que depender.

Mas esta regra não era aplicada em relação a Marjorie. Neste caso, ele tinha liberdade de chamá-la quando chegava ao outro lado e, em pouco tempo, Marjorie aparecia, dançando plena de alegria e felicidade, e os dois empreendiam um longo “deslizar”, às vezes percorrendo a metade do mundo.

Foi Marjorie que o apresentou aos Espíritos da Natureza, dos quais ela era uma das principais favoritas. Assim, Jimmie conheceu os gnomos, os duendes e até mesmo as fadas. Soube que havia muitas outras tribos destas estranhas criaturas; algumas evitavam o homem quanto lhes fosse possível e outras lhe eram ativamente hostis.

Como regra, alguns que encontrava em seus passeios eram seres gentis e tímidos, outros gentis sem serem tímidos. Aprendeu a gostar muito dos duendes que sempre encontrava além do caminho nas regiões das florestas. Adorava conversar e brincar com eles, que aprenderam a amá-lo também, pois possuem uma natureza muito carinhosa embora não acreditem nos homens, porque as vibrações do homem comum são muito grosseiras e desagradáveis a um ser de natureza sensível.

As fadas eram mais difíceis de conhecer, mas, com a ajuda de Marjorie, fez amizade com algumas delas, que costumavam visitá-lo quando estava sozinho nas florestas.

Esta fase de sua vida extrafísica foi repleta de aventuras, como um extenso conto de fadas. Mas estou mencionando agora esses fatos com um único intuito, demonstrar o tremendo dínamo de energia que é a vontade humana.

Jimmie tinha poucos dias de férias, mas, de vez em quando, tinha permissão para sair do acampamento e embrenhava-se nas florestas que podia alcançar depois de uma curta viagem de trem. Gostava de ir para a floresta, pois era aí que aqueles pequenos seres podiam ser encontrados, os quais depois de descobrirem que ele era inofensivo, costumavam agrupar-se ao seu redor todas as vezes que o encontravam sozinho, e juntos passavam momentos alegres.

Foi numa desta excursões, quando ainda não havia penetrado muito na floresta, que se tomou consciente de algo errado com as vibrações no éter. Ele não ouviu ninguém chamar, mas, de alguma maneira, pressentiu que algo grave ocorria e resolveu investigar. Não demorou mais que alguns minutos após ter sentido a perturbação etérica, quando viu em uma pequena folha de grama um de seus amigos duendes tentando defender-se dos ataques de cinco seres muito repugnantes. Não tentarei descrevê-las, limito-me a dizer que eram aparentemente semi-humanos, semi-animais. Evidentemente não eram Espíritos da Natureza inofensivos, pois o pequeno duende estava em apuros. Ele não se defendia com nenhuma arma, mas fazia movimentos em direção àquelas criaturas e ao fazê-los, elas encolhiam-se como se o duende as houvesse tocado. Logo em seguida, porém, elas recuperavam-se e o atacavam novamente e Jimmie percebeu, embora esta fosse sua primeira experiência nesse sentido, que estava presenciando um combate no plano etérico.

Quando Jimmie se aproximou, o duende tentou romper o círculo, mas, sem dúvida alguma, parecia estar realmente debilitado e três desses estranhos seres bloquearam a passagem e fizeram-no retroceder.

.Não tocaram o duende nem este os tocou, contudo, de alguma maneira, existia um contato muito real, e Jimmie podia perceber, pelos movimentos de seu pequenino amigo, que este estava muito aflito e em grande desvantagem.

Não houve a mínima hesitação no agir de Jimmie. Jamais havia visto uma luta nesse plano de vida, mas testemunhou que existia tal fato como uma disputa de forças entre grupos diferentes. Evidentemente, isso era o que estava presenciando agora e intuía porque o pequenino duende estava levando a pior.

No outro plano, uma luta é uma luta, não de golpes ou do que corresponderia à força física, mas da vontade. Também não é inteiramente da vontade. Por exemplo, um certo número de espíritos, com tendências malignas pode estar atormentando alguém, mas quando um dos “Mestres” aparece e coloca um fim à conten­da, não o faz pela força física nem por um exercício supremo de uma vontade mais forte, mesmo que, naturalmente, possua essa vontade mais forte. Seu poder para deter a crueldade é o resultado de uma vontade mais forte combinada à sua posição mais elevada na escala dos seres, o que lhe confere uma aura cujas vibrações são tão fortes, que um ser, cujas vibrações não sejam tão boas ou positivamente más, não consegue suportar o elevado grau vibratório da presença do “Mestre”. Este é um exemplo extremo, naturalmente, mas funciona em todos os planos da natureza onde as vibrações mais elevadas podem ser sentidas, e atuariam com pleno poder no plano físico não fosse o fato das vibrações superiores aqui estarem tão embaçadas pela carne que perdem sua força e só podem atuar lentamente. Isto nos faz recordar o verso de um hino que diz: “Onde tu estás presente, o mal não consegue estar”. Esta afirmação é verdadeira em todos os casos onde o bem é colocado em contato com o mal, decorrendo o efeito de acordo com o grau de diferença entre as intensidades do bem e do mal.

Os duendes são uma raça delicada, agradável, pequenina, mas são Espíritos da Natureza, e, embora inocentes e sensíveis em alto grau, sua inocência não é o resultado de uma luta positiva e demorada contra a tentação mas assemelha-se mais à inocência da infância, portanto, não é uma fonte de poder. Em muitos aspectos são incrivelmente semelhantes às crianças, com seus afetos, gostos, aversões e com uma grande incapacidade de defesa contra a agressão.

Assim, este pequeno duende, que estava lutando tão bravamente e em terríveis condições, não possuía a força que seria sua, se ele fosse o produto de uma longa evolução adquirida através de sofrimento e de educação no plano físico. Assemelhava-se a uma criança pequenina e desamparada, lutando brava mas inutilmente contra um bando de lobos que só estavam contidos porque o con­sideravam mais forte do que realmente era.

Eis a situação quando Jimmie surgiu em cena. Uma exclamação aguda irrompeu dele, e em poucos passos, colocou-se ao lado do duende e enfrentou os terríveis elementais que o estavam atacando. Jimmie simplesmente olhou para eles, estendeu o braço e disse “Vão embora” e usou sua imaginação e vontade para arrebatá-los e desintegrá-los. Olharam-no horrivelmente de soslaio, vociferaram e rugiram, mas a vontade humana, resultado de longa evolução, era demasiado forte para eles e simplesmente sumiram de vista, como um quadro que se tira de cena.

O duende tinha caído em um monte quando Jimmie interveio na luta, mas o poder de recuperação no plano etérico é rápido, e os elementais mal haviam desaparecido quando ele se levantou de um salto, jogou-se nos braços de Jimmie e colou-se a ele soluçando incoerente e prolongadamente como uma criança. Como sua altura era de apenas uns dezoito centímetros, não é de se estranhar que Jimmie experimentasse a mesma sensação de alguém que tivesse salvo uma criança de um cão feroz.

Esta foi a primeira vez que um duende o tocou, pois são muito tímidos. Mas agora que sua amizade tinha sido provada,. este duende em particular, apegou-se a ele, acariciando seu rosto, seu cabelo enquanto dizia continuamente:

- Jimmie, meu amigo; Jimmie, meu amigo.

Andaram juntos, por alguns minutos e, uma vez que o duende não pensava nada por ser uma entidade etérica, Jimmie simplesmente o segurava como seguraria uma criança, tentava confortá-lo com todo o carinho, ajudando-o a recuperar-se de seu susto. Estavam assim quando uma multidão desses seres minúsculos surgiu dançando da floresta mais densa e ficou a observá-los.

 

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