ENSINAMENTOS DE UM INICIADO

MAX HEINDEL

 

 

CAPÍTULO X

LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)

Parte II - Seu desenvolvimento sob o ponto de vista espiritual

 

Esta afirmação pode parecer estranha, entretanto, a verdade é que a maioria da humanidade está adormecida uma grande parte do tempo, apesar de seus corpos físicos parecerem estar intensamente ocupados em trabalho ativo. Sob condições comuns, o corpo de desejos dessa maioria é a parte mais desperta do homem composto, que vive quase inteiramente de seus sentimentos e emoções, mas raramente se preocupa com os problemas da existência além do que necessita para manter juntos o corpo e a alma. Muitos talvez nunca tenham considerado seriamente o sentido da vida e nunca se perguntaram: "De onde viemos, por que estamos aqui, e para onde vamos?" Seus corpos vitais estão em constante atividade reparando os estragos do corpo de desejos sobre o corpo denso, e fornecendo a. vitalidade que logo será consumida na gratificação dos desejos e emoções.

Esta é a batalha árdua entre os corpos vital e o de desejos, que gera a consciência no mundo físico e torna os homens e mulheres tão intensamente alertas, e que, do ponto de vista do mundo físico, parece desmentir nossa afirmação de que eles estejam parcialmente adormecidos. Contudo, depois de todos os fatos examinados, verificar-se-á que isso é verdade. Também podemos dizer que esta questão foi planejada pelas Grandes Hierarquias responsáveis pela nossa evolução.

Sabemos que houve uma época em que o homem estava muito mais desperto no mundo espiritual do que no físico. Na verdade, nessa época, embora possuindo um corpo denso, não era consciente disso. Para que aprendesse a usar adequadamente esse instrumento, conquistasse o mundo físico e soubesse pensar corretamente, tornou-se necessário que, por algum tempo, esquecesse tudo sobre os mundos espirituais e canalizasse todas as suas energias para as questões físicas. Como isso foi realizado com a introdução do álcool como bebida estimulante e por outros meios, já foi explicado no "Conceito Rosacruz do Cosmos" e não precisa ser repetido. Mas agora enfrentamos o fato de que a humanidade se tornou tão envolvida no materialismo que, no que respeita à grande maioria, os veículos invisíveis estão inteiramente voltados para as atividades físicas e adormecidos para as verdades espirituais, que chegam a ser ridicularizadas como imaginação de cérebros doentios. Mesmo os que estão começando a acordar do sono do materialismo são tidos como fanáticos, prontos para serem internados num manicômio.

Se esta atitude mental permanecesse sempre, o espírito acabaria cristalizando-se no corpo. A vida celestial, na qual preparamos nossos futuros veículos e ambientes, tornar-se-ia cada vez mais árida, pois, quando nos agarramos persistentemente ao pensamento de que nada existe além do que podemos perceber através dos nossos sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar e análise), esta atitude mental, cultivada na vida terrena, persistirá no Segundo Céu e fará com que alí negligenciemos a preparação que nos daria um campo para nossos esforços e instrumentos para trabalhar. Como resultado, a evolução logo cessaria.

Segundo os Ensinamentos Rosacruzes, a alma é o extrato dos vários corpos, acumulado pela experiência de onde o pão vivo deriva e que deve ser usado para alimento do espírito. No curso normal de evolução, o aperfeiçoamento dos vários veículos é gradual, e a substância da alma é então acumulada e assimilada pelo espírito no espaço entre vidas terrenas. Mas, em determinado período na vida, quando estamos entrando numa nova fase espiritual - uma fase diferente de evolução - em geral é necessário empregar medidas drásticas para desviar o espírito do caminho já trilhado para uma nova e desconhecida direção. Antes, quando possuíamos pouca individualidade e éramos incapazes de tomar a iniciativa, essas mudanças eram levadas à efeito pelo que podemos chamar de grandes cataclismos da natureza. Na verdade, eram planejados pelas Divinas Hierarquias que regem a evolução com o objetivo de destruir muitos corpos - que foram úteis para o desenvolvimento humano em determinada ocasião, mudando o ambiente para os que haviam aprendido as possibilidades de um novo caminho e iniciando esses pioneiros num novo curso. Essa destruição em massa era naturalmente muito mais freqüente em épocas anteriores do que agora. Lemúria teve todas as condições para que numerosas tentativas fossem feitas de recomeçar com um grupo quando outro havia falhado e sido destruído. Na verdade, não houve apenas um dilúvio na Atlântida, mas três, e entre o primeiro e o último decorreu um período de mais ou menos três quartos de um milhão de anos.

Não devemos esperar que o método de destruição em massa e um novo começo possam ser abolidos até que nós, como um todo, despertemos para a necessidade de tomar um novo rumo quando chegarmos ao fim do antigo. Entretanto, Guias Invisíveis da evolução estão usando um novo método. Já não empregam cataclismos da natureza para mudar a antiga ordem por algo novo e melhor, mas estão fazendo uso das energias mal dirigidas da própria humanidade para atingir seus objetivos. Esta foi a origem da grande guerra que recentemente nos assolou. Seu propósito foi desviar nossas energias da procura do pão, pelo qual os homens morrem, e criar em nós a fome da alma que nos desviasse das coisas materiais para as espirituais. Na verdade, estamos começando a operar a nossa própria salvação. Estamos começando a fazer coisas por nós, ao invés de que as façam para nós e, embora o ignoremos, estamos aprendendo como transformar o mal em bem.

Alguns devem pensar que esta guerra afetou apenas aqueles milhões de homens realmente envolvidos nela. Mas, refletindo um pouco mais sobre o assunto, qualquer pessoa ficará convencida que o bem-estar do mundo inteiro foi envolvido em maior ou menor grau no que diz respeito às condições econômicas. Não há raça ou país que tenha ficado inteiramente ausente dessa catástrofe, e ninguém pôde prosseguir na mesma tranqüilidade como antes de ser deflagrada a guerra. Parentesco e amizade eram laços que se estendiam desde as trincheiras da Europa alcançando todas as partes do globo. Muitos de nós tínhamos parentes em um e talvez nos dois grupos empenhados na luta, e acompanhávamos a sua sorte com interesse proporcional ao grau de nossos sentimentos por eles. Mas, durante a noite, quando nosso corpo denso dormia e entrávamos no Mundo do Desejo, não podíamos deixar de viver e sentir toda a tragédia, com toda a intensidade possível, pois as correntes de desejos arrebatavam o mundo todo. No Mundo do Desejo não existe tempo nem distância. As trincheiras da Europa vinham até nossa porta onde quer que estivéssemos, e não podíamos fugir dos efeitos subconscientes do espetáculo que ali víamos. Além disso, essa luta titânica produzia efeitos que nunca poderiam ser igualados por um cataclismo natural, que é muito mais rápido em sua ação, muito mais curto em sua duração e que, além de ser localizado, é incapaz de gerar os mesmos sentimentos de amor e ódio que foram fatores tão importantes na Grande Guerra.

Durante o anterior curso de vida do homem, o objetivo das Divinas Hierarquias foi ensiná-lo como conseguir resultados físicos por meios físicos. Ele esqueceu como utilizar as forças mais sutis da natureza como, por exemplo, a energia liberada quando uma semente está germinando, que era usada para propósitos de propulsão e levitação nas aeronaves da Atlântida. Não percebe a santidade do fogo e como usá-lo espiritualmente, porque somente uns quinze por cento de seu poder é utilizado nas melhores máquinas a vapor. Certamente é bom que o homem seja assim limitado, pois se fosse capaz de usar o poder para comandar alguém cujas faculdades espirituais estivessem despertadas, ele poderia destruir nosso mundo e tudo que há sobre ele. Mas, enquanto faz o melhor ou o pior que pode com os poderes que hoje tem em mãos, está aprendendo a lição de como dominar seus sentimentos para tornar-se apto a usar as forças superiores necessárias para seu progresso na Era de Aquarius. Está também arrancando a venda dos olhos para descortinar o novo mundo que está destinado a conquistar.

Dois processos separados e diferentes estão sendo usados para chegar a esse resultado. Um, é a visita da morte a milhões de lares, arrancando do grupo familiar o marido, o pai ou o irmão e deixando os sobreviventes enfrentarem uma negra existência de privação econômica. O Sol existiu antes da formação dos olhos e construiu esse órgão para que fosse percebido. O desejo de ver era naturalmente inconsciente por parte do indivíduo, que não conhecia e não fazia idéia do sentido ou uso da visão, no entanto, no mundo da alma repousava o conhecimento e o desejo necessários que tornaram possível o milagre. Da mesma maneira no caso da morte. Quando nossa consciência se concentrou primeiro nos veículos físicos e a realidade da morte nos foi apresentada, não restou mais esperança, mas, no tempo devido, a religião liberou o conhecimento da existência de um mundo invisível, de onde o espírito veio e para onde retornará depois da morte. A esperança da imortalidade surgiu gradativamente na humanidade com o sentimento de que a morte é apenas uma transição, mas a ciência moderna tem feito o possível para roubar ao homem este consolo.

Todavia, as lágrimas que são derramadas a cada morte servem para dissolver o véu que esconde o mundo invisível da nossa visão. A profunda saudade e a tristeza pela partida dos entes queridos, fazem com que de ambos os lados do véu hajam dilacerações. Algum dia, não muito distante, o efeito acumulado de tudo isto revelará que a morte não existe, e os que passaram para o além estão tão vivos quanto nós. Contudo, a intensidade destas lágrimas, desta tristeza, desta saudade não é igual em todos os casos, e os efeitos diferem largamente segundo o corpo vital tenha sido ou não despertado por atos de abnegação e serviço em determinada pessoa. Isso se coaduna com o aforismo oculto de que toda evolução na linha espiritual começa no corpo vital. Esta é a base, e nenhuma superestrutura pode ser construída até que este princípio esteja assentado.

No que se refere ao segundo processo do desenvolvimento da alma, que abrange os que estão envolvidos em conflitos de guerra, provavelmente há poucos que tenham tido a rara oportunidade de estudar as reais condições da prolongada linha de batalha como o autor. Apesar de todo horror e brutalidade, ele acredita que esta tenha sido a maior escola de desenvolvimento anímico que jamais existiu, pois em nenhum lugar houve tantas oportunidades de serviço desinteressado como nos campos de batalha da França, e em nenhum outro lugar os homens estiveram tão dispostos a ajudar seu semelhante. Assim, os corpos vitais de um grande número de pessoas receberam um revigoramento como provavelmente não teriam conseguido em outras numerosas vidas.

Portanto, essas pessoas tornaram-se mais sensíveis às vibrações espirituais, e suscetíveis, num elevado grau, de receber benefícios que podem advir do primeiro processo antes mencionado. Conseqüentemente, a seu devido tempo, veremos entre nós uma multidão de sensitivos que estarão em tão íntimo contato com o mundo invisível, que seu testemunho em conjunto não poderá ser anulado pela escola materialista. Serão grandes elementos que nos ajudarão a estar preparados para as condições elevadas da Era de Aquarius.

"Mas", perguntarão alguns, "eles não se esquecerão quando a tensão e o esforço da guerra tiverem passado? Uma grande porcentagem destas pessoas não voltará à mesma rotina em que estava antes?" Podemos responder que temos confiança que isto não irá acontecer, pois, enquanto os veículos invisíveis, especialmente o corpo vital, estão adormecidos, o homem pode persistir numa escalada materialista. Porém, uma vez que esse veículo tenha sido despertado e provado o pão da vida, torna-se como o corpo denso sujeito à fome - tem fome de alma - e seu desejo não deixará de ser atendido, salvo se sucumbir após uma luta extremamente árdua. Neste caso, as palavras de Pedro são bem aplicadas: "O último estado desse homem é pior do que o primeiro". Contudo, é bom sentir que, não obstante a indescritível dor e a calamidade da guerra, o bem foi trabalhado no crisol dos deuses, e será permanente. Possamos todos reunir nossas forças e ajudar a extrair o bem, para sermos exemplos luminosos na missão de conduzir a humanidade para a Nova Era.

 

CAPÍTULO XI

LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)

Parte III - Paz na Terra

Um mundo cansado de guerra, vermelho com o sangue de milhões, a flor da juventude, que é a esperança do futuro, geme em agonia clamando pela paz, não por armistício -uma cessação temporária de hostilidade - mas por uma paz duradoura, e está lutando para resolver como alcançar este tão almejado fim. No entanto, está colidindo com os efeitos, pois ignora ou está cego para a causa fundamental da agressividade das pessoas, que estava apenas encoberta por um tênue verniz de civilização antes de explodir no vulcão destruidor que recentemente testemunhamos e lamentamos.

Até que seja compreendida a conexão entre o alimento do homem e sua natureza, e esse conhecimento usado para controlar as paixões e erradicar a selvageria, não poderá haver paz duradoura. No obscuro limiar da existência, o homem em formação labutava sob a orientação direta das Divinas Hierarquias que o guiavam no caminho da evolução. Era-lhe dado alimento adequado para desenvolver seus vários veículos de maneira ordenada, sistemática, para que, no devido tempo, esses diferentes corpos se tornassem um instrumento completo que servisse de templo a um espírito que pudesse nele habitar e aprender a lição de vida, por uma série de renascimentos em corpos terrestres de textura cada vez mais sutil. Existem cinco grandes estágios ou épocas na jornada evolucionária do homem sobre a Terra.

Na primeira, ou Época Polar, o homem atual era apenas um corpo denso como são os minerais de hoje. Portanto, ele era como um mineral, e a Bíblia nos diz que "Adão (Adam) foi formado da terra".

Na segunda, ou Época Hiperbórea, foi-lhe acrescentado um corpo vital feito de éter. O homem em formação possuía então um corpo constituído como os das plantas atuais. Não era uma planta, mas era como uma planta. Caim, o homem dessa época, é descrito como um agricultor; seu alimento era proveniente apenas de vegetais, pois as plantas contêm mais éter do que qualquer outra estrutura.

Na terceira, ou Época Lemúrica, o homem desenvolveu o corpo de desejos, um veículo gerador de paixões e emoções, e era constituído como os animais. O leite, um produto dos animais vivos, foi acrescentado à sua alimentação, pois esta substância é facilmente produzida pelas emoções. Abel, o homem dessa época, é descrito como um pastor. Não há nenhuma evidência que ele tenha matado um animal para alimentar-se.

Na quarta, ou Época Atlante, a mente desabrochou, e o corpo tornou-se o templo de um espírito que nele habitava, um ser pensante. Mas o pensamento desgasta as células nervosas; mata, destrói, e causa decadência. Portanto, o novo alimento dos atlantes era a carne de animais. Eles matavam para comer, e a Bíblia descreve o homem dessa época como Nimrod, um poderoso caçador.

Utilizando esses vários alimentos, o homem mergulhou cada vez mais fundo na matéria. Seu corpo, outrora etérico, formou dentro de si um esqueleto, tornando-se sólido. Ao mesmo tempo, foi gradativamente perdendo sua percepção espiritual, mas a lembrança do céu permaneceu nele, pois sabia estar exilado de seu verdadeiro lar, o mundo celestial. Para fazê-lo esquecer esse fato e dedicar sua atenção exclusivamente à conquista do mundo material, na quinta época ou Época Ária, um novo elemento foi introduzido ao seu regime alimentar: o vinho. Pela indulgência com esse falso espírito do álcool durante os milênios que se passaram, desde que o homem surgiu da Atlântida, as mais evoluídas raças humanas são também as mais ateístas e materialistas. Eles são todos bêbados e, embora uma pessoa diga - certa de estar dizendo a verdade - que nunca provou uma só gota de álcool em sua vida, não deixa de ser um fato que o corpo, no qual ela está atuando, descende de ancestrais que por milênios se entregaram à bebida, sem comedimento. Portanto, os átomos que compõem atualmente os corpos do Ocidente são incapazes de vibrar na medida necessária para a percepção dos mundos invisíveis, como ocorria antes que o vinho fosse acrescentado à alimentação humana. Igualmente hoje, embora uma criança possa ser criada com dieta sem carne, ainda participa da natureza feroz de seus ancestrais carnívoros de milhões de anos, porém em menor intensidade do que os que continuam a se deliciar com esse alimento. Assim, o efeito da introdução da carne está firmemente implantado e arraigado nas pessoas, mesmo nas que agora não a consomem.

Não nos admiremos que os que ainda apreciam a carne e o vinho extravasem, às vezes, uma perversa selvageria e exibam uma ferocidade incontida contra qualquer dos sentimentos superiores supostamente acalentados durante séculos por uma, assim chamada, civilização! Enquanto os homens continuarem a reprimir o espírito imortal dentro de si, por apreciarem a carne e o enganador espírito do álcool, nunca haverá paz duradoura na Terra. A ferocidade inata produzida por estes alimentos, de vez em quando virá à tona e arrebatará até as mais altruísticas concepções e ideais num turbilhão de selvageria, numa orgia de cruel carnificina que aumentará em proporção ao desenvolvimento da inteligência do homem, o que o habilitará a conceber com sua mente superior, métodos de destruição mais diabólicos do que qualquer um já testemunhado.

Não há necessidade de argumentos para provar que a última guerra foi mais destrutiva do que qualquer dos conflitos anteriores registrados pela história, porque foi travada mais entre homens de cérebros do que entre homens de músculos. A habilidade que em tempos de paz tem sido tão proveitosa em empreendimentos construtivos, foi canalizada para objetivos de destruição. Podemos supor que, se houver outra guerra daqui a cinqüenta ou cem anos, a Terra poderá, talvez, ficar despovoada. Portanto, é absolutamente necessária uma paz duradoura sob o ponto de vista de auto-preservação. Nenhum ser humano que raciocine pode permitir-se ignorar esta realidade, e deve interessar-se por toda teoria que considere a guerra um fato absurdo e lastimável, mesmo que se tenha habituado a olhá-la como um acontecimento banal.

Está comprovado que uma dieta carnívora aguça a ferocidade, mas não nos estenderemos mais sobre o assunto por falta de espaço. Contudo, queremos mencionar como exemplo claro, a bem conhecida agressividade das feras e a crueldade dos índios antropófagos americanos. Por outro lado, a força prodigiosa e a natureza dócil do boi, do elefante e do cavalo, mostra o efeito da dieta herbívora nos animais. As nações vegetarianas e pacíficas do Oriente são uma prova do argumento contra uma dieta de carne, fato que não pode ser negado. No passado, o consumo da carne encorajou a, então, baixa inventividade humana; serviu a um propósito em nossa evolução, mas agora estamos no limiar de uma nova era, quando abnegação e serviço trarão à humanidade um desenvolvimento espiritual. A evolução da mente nos trará uma sabedoria profunda, que está além de nossa concepção. Contudo, antes que nos tornemos dignos de confiança para receber essa sabedoria, devemos tornar-nos inofensivos como pombas, pois, do contrário, seremos capazes de usá-la para propósitos tão egoístas e destrutivos que seria uma ameaça inconcebível para nossos semelhantes. Para evitar isso, a dieta vegetariana deve ser adotada.

Mas há vegetarianos e vegetarianos. Atualmente na Europa as condições obrigam o povo a abster-se de carne por um longo tempo. Não são verdadeiros vegetarianos, pois desejam ardentemente comer carne e acham sua escassez uma grande privação e sacrifício. Com o tempo se acostumariam e, em muitas gerações, isso os tornaria mais tranqüilos e dóceis. Obviamente este não é o tipo de vegetarianismo que necessitamos agora. Há outros que se abstêm de carne por motivo de saúde; seu motivo é egoísta, e muitos dentre eles provavelmente desejam até as "Panelas de carne do Egito". Sua atitude mental também não é a de abolir a ferocidade com rapidez.

Mas há uma terceira classe capaz de compreender que toda vida pertence a Deus e que causar sofrimento a qualquer ser consciente é errado. Sendo assim, eles se abstêm do uso de carne como alimento unicamente por compaixão. Estes são os verdadeiros vegetarianos, e é óbvio que uma guerra mundial nunca poderia ser travada por pessoas com essa mentalidade. Todos os verdadeiros cristãos deverão abster-se de carne por motivos semelhantes. Então, será um fato real a paz na Terra e boa vontade entre os homens. As nações transformarão suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras para que cessem de causar morte, tristeza e sofrimento e se tornem instrumentos para propiciar vida, amor e felicidade.

Nossa própria segurança, a segurança de nossos filhos, até a segurança da raça humana, obrigam-nos a entender a inspirada poetisa Ella Wheeler Wilcox, que escreveu este comovente apelo em favor de nossos amigos animais:

"Eu sou a voz daqueles que não falam;

e através de mim o mundo vai falar

até que o surdo ouvido do mundo

seja aberto para escutar

as injustiças contra o fraco, que não sabe se expressar.

"A mesma força formou o pardal

o rei, a criatura moldada;

Tanto para seres de pele como de pena,

pelo Deus de Todos

uma centelha de alma, a cada um lhe foi dada.

"Eu sou o guardião de meu irmão,

e até que o mundo corrija as coisas,

a luta dele lutarei,

e para animais e aves

a palavra falarei".

 

CAPÍTULO XII

LUZ MÍSTICA NA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)

Parte IV - O Evangelho do Regozijo

 

A recente luta titânica entre as nações da Europa perturbou o equilíbrio do mundo inteiro, de tal modo que as emoções das pessoas que viviam até nas mais remotas regiões da Terra foram agitadas como nunca o haviam sido antes, exprimindo cólera, ódio, histeria ou desalento, conforme sua natureza e temperamento. É evidente para aqueles que estudaram os mistérios profundos da vida e que compreendem a ação da lei natural nos mundos espirituais, que os habitantes dos reinos invisíveis foram afetados talvez em maior grau do que aqueles que viviam em corpos físicos, pois, por sua própria densidade, torna-se impossível para nós sentirmos, como eles, toda a intensidade das emoções.

Depois da deflagração da guerra, a onda de emoções espalhou-se forte e rapidamente, pois não havia condições adequadas de refreá-la. Por meio de grande trabalho e organização, os Irmãos Maiores da humanidade conseguiram, depois do primeiro ano, criar um exército de Auxiliares Invisíveis que, tendo passado pelo umbral da morte e sentido a tristeza e o sofrimento inerentes a uma transição prematura, ficaram plenos de compaixão por aqueles que chegavam constantemente, tornando-se aptos a confortá-los e ajudá-los até que encontrassem seu equilíbrio. Mais tarde, contudo, os sentimentos de ódio e malignidade gerados pelas pessoas do mundo físico tornaram-se tão fortes, que havia perigo que pudessem gerar alguma influência. Portanto, .foi necessário tomar novas providências para neutralizar esses sentimentos e, por toda a parte, as forças do bem reuniram-se e foram dirigidas para ajudar a restabelecer o equilíbrio e conservar as emoções básicas sob controle.

Uma das razões que agravou o problema e ajudou a prolongar a guerra, pela qual a maioria das pessoas orava para terminar, foi a fixação sobre o lado aterrador do conflito, esquecendo-se de vê-lo pelo seu lado favorável.

"O lado favorável dessa guerra cruel?" Provavelmente é essa pergunta que surge na mente do leitor. "O que quer dizer com isso?" Para alguns pode até parecer sacrilégio falar sobre um lado favorável ao referirmo-nos a tal calamidade, como eles a classificariam. Entretanto, vejamos se não há uma auréola prateada até na mais escura nuvem, e se não existe um método pelo qual essa auréola possa ser mais e mais ampliada até que a nuvem fique também luminosa.

Há algum tempo atrás, nossa atenção foi despertada para um livro chamado "Poliana". Poliana era a filha de um missionário, cujo salário era tão baixo que ele mal podia obter o essencial para viver. De tempos em tempos, chegavam à missão caixas com roupas usadas e quinquilharias para serem distribuídas. Poliana esperava que algum dia chegasse alguma contendo uma bonequinha. Seu pai havia até escrito pedindo para que na próxima caixa viesse uma boneca já usada para sua filha. A caixa veio, mas, em vez de uma boneca, trazia um par de muletas. Notando a decepção da criança, o pai disse: "Há uma coisa pela qual podemos ficar contentes e agradecidos: é de não precisarmos de muletas". Foi então que começaram a jogar o "jogo do contente", como o chamaram, procurando e achando qualquer motivo para alegrar-se e agradecer, não importando o que fosse, e sempre o achavam. Por exemplo, quando fossem obrigados a comer uma refeição reduzida num restaurante, por não poderem pagar as guloseimas constantes do cardápio, diziam: "Bem, estamos contentes por gostarmos de feijão", embora seus olhos parassem no peru assado com seu preço proibitivo. Depois, passaram a ensinar o jogo a outros, fazendo com que muitas pessoas se tornassem mais felizes, entre elas algumas que acreditavam nunca mais poder alcançar a felicidade.

Por fim, estavam realmente passando fome, e a mãe de Poliana teve que ir para o céu para evitar a despesa de viver. Logo depois, seu pai a seguiu, deixando Poliana dependente da generosidade de uma tia solteira, rica, mas rabugenta e inóspita, que morava em Vermont. Apesar de ter sido mal recebida e do quarto horrível que lhe foi destinado, a menina só viu motivos para alegrar-se. Literalmente, ela irradiava alegria, atraindo por seu encanto a empregada e o jardineiro e, com o tempo, até a tia indiferente. A mente radiosa da criança logo forrou as paredes nuas e o chão do seu frio quarto do sótão com toda espécie de beleza. Se não havia quadros, ela ficava contente porque sua janelinha abria para uma paisagem mais linda do que um artista poderia pintar, e o gramado era um tapete verde e dourado que nem o mais hábil tecelão do mundo poderia tecer igual. Se em seu grosseiro lavatório não havia espelho, ela ficava contente porque isso a poupava de ver suas sardas; mas, se tinha sardas, não era um bom motivo ficar contente porque não eram verrugas? Se sua mala era pequena e as roupas poucas, não eram bons motivos para ficar contente porque era rápido desfazer a mala? Se seus pais não estavam com ela, não devia estar contente por eles estarem no céu com Deus? Já que eles não podiam falar-lhe, não devia alegrar-se por ela poder falar com eles?

Quando voava como um pássaro pelos campos e charnecas, esquecendo a hora da ceia, ao voltar mandavam-na para a cozinha para alimentar-se apenas de pão e leite. A tia que esperava lágrimas e amuos, surpreendia-se ao ouvi-la exclamar: "Oh, estou tão contente por você ter feito isto, porque eu gosto muito de pão e leite". Qualquer tratamento ríspido, e havia muitos no início, fazia com que ela imaginasse algum motivo bondoso por trás de tudo e, então, dedicava-lhe um pensamento agradecido.

Sua primeira seguidora foi a criada da casa, que costumava esperar o dia semanal de lavagem de roupa com verdadeiro horror e encarava a segunda-feira com mau humor. Não demorou muito para que nossa garota conseguisse que Nancy se sentisse mais contente na manhã de segunda-feira do que em outras manhãs, porque não haveria mais nenhum outro dia de lavar roupa em toda a semana; e também fê-la ficar contente que seu nome não fosse Hepsibah, e sim Nancy, do qual ela não gostava. Um dia, quando Nancy protestava dizendo: "Claro, não há nada num enterro para ficar contente", Poliana logo respondeu: "Bem, podemos ficar contentes por não ser o nosso". Para o jardineiro, que se queixava que estava curvado por causa do reumatismo, ela ensinou o jogo do contente dizendo-lhe que por já estar meio curvado deveria ficar contente por ter que se curvar só a metade quando estivesse arrancando o mato.

Perto de sua casa, numa mansão, vivia um velho solteirão, um recluso sombrio. Quanto mais ele a repelia mais solícita ela ficava, e freqüentemente o visitava porque nenhuma pessoa o fazia. Em sua inocência e compaixão, ela atribuía sua falta de cortesia a algum secreto infortúnio e, portanto, ansiava cada vez mais por ensinar-lhe o jogo do contente. Ela ensinou e ele aprendeu, embora fosse difícil no começo. Quando ele quebrou a perna, não foi fácil convencê-lo a ficar contente por haver quebrado apenas uma das pernas, e admitir que teria sido muito pior se suas pernas fossem tão numerosas como as de uma centopéia e ele tivesse quebrado todas elas. Por fim, sua alegre disposição conseguiu que ele gostasse do sol, abrisse as venezianas, corresse as cortinas e abrisse seu coração para o mundo. Ele quis adotá-la, mas como não o conseguiu, adotou um menino órfão que ela encontrou à beira da estrada.

Conseguiu que uma senhora, que só usava roupa preta, passasse a usar roupas com cores alegres. Outra senhora, rica e infeliz porque sua mente estava fixada em desgostos passados, teve sua atenção desviada por Poliana para as misérias alheias, e tendo aprendido pelo jogo do contente como levar a alegria àquelas vidas, esta senhora trouxe alegria em profusão para a sua própria. Sem o saber, ela reuniu em feliz vida comum um casal que estava a ponto de separar-se, acendendo em seus corações, que estavam ficando frios, um grande amor por seus filhos. Aos poucos, toda a cidade começou a jogar o jogo do contente e a ensiná-lo a outros. Sob esta influência, os homens e mulheres transformavam-se em seres diferentes: os infelizes ficavam felizes, os doentes curavam-se, os que estavam a ponto de proceder mal encontravam de novo o caminho certo, e os desanimadas readquiriam coragem.

O principal médico da cidade achou por bem recomendá-la, como se ela fosse algum remédio. Dizia: "Essa garotinha é melhor do que um vidro de tônico. Se há alguém capaz de retirar o mau humor de alguém é ela; uma dose de Poliana é mais curativa do que uma farmácia cheia de medicamentos". Mas o maior milagre conseguido pelo jogo do contente foi a transformação operada no caráter de sua impertigada e puritana tia. Ela que havia recebido Poliana em sua casa por estrito dever de família, com a convivência com sua sobrinha desenvolveu um coração transbordante de carinho. Poliana foi retirada de seu frio quarto do sótão para um quarto lindamente forrado de papel, com quadros, tapetes e mobiliado, no mesmo andar de sua tia. Assim, o bem que ela fez reverteu em seu próprio benefício.

A história é urna ficção, mas é baseada sobre fatos com raízes na lei cósmica. O que essa menina fez com as pessoas ao seu redor, nós, os estudantes dos Ensinamentos Rosacruzes, podemos e devemos fazer em nossas esferas individuais, tanto no que diz respeito aos assuntos referentes à comunicação com nossos parentes e companheiros próximos, como em relação ao mundo em geral.

No que se refere ao benefício extraído da guerra, em lugar de nos tornarmos melancólicos com a derrota ou amedrontados pelas catástrofes registradas em sensacionais manchetes de jornais, em lugar de juntar nossos desalentos, ódios e malignidade aos sentimentos similares engendrados por outros, não poderíamos encontrar um lado favorável, mesmo numa tão aterradora calamidade? Claro que há motivo de extremo regozijo nos pensamentos de abnegação que impeliram tantos homens nobres a abandonar seu trabalho no mundo, suas vultuosas rendas, seus lares confortáveis pelo que, em sua opinião, era um ideal para tornar o mundo melhor para os que viessem depois deles, pois sabiam que não voltariam para gozar dos frutos alcançados. Não nos poderíamos regozijar e ressaltar que tantas mulheres nobres, criadas na comodidade e conforto, deixassem seus lares e amizades pelo árduo trabalho de cuidar dos feridos? Havia entre todas um espírito de altruísmo partilhado pelas que, por força das circunstâncias, eram obrigadas a ficar em casa, mas ainda assim colaboravam tricotando e trabalhando para os que deviam sofrer a violência da batalha.

Imenso é o sofrimento através do qual o altruísmo está nascendo em milhões de corações humanos e, por toda angustia sofrida na última guerra, a humanidade torna-se mais benevolente, nobre e melhor do que nunca. Se encararmos este aspecto do recente sofrimento e amargura, se pudermos ensinar aos outros a esperar as bênçãos futuras que advirão desses tormentos, nós mesmos teremos mais forças para recuperar-nos da tensão e estaremos melhor qualificados para ajudar outros a fazerem o mesmo.

Desse modo, podemos imitar Poliana e, se formos suficientemente sinceros, nossa visão se ampliará e se enraizará em outros corações. Como pensamentos são coisas, e os pensamentos positivos são mais poderosos que o mal, desde que estejam em harmonia com a tendência da evolução, breve virá o dia em que conseguiremos a supremacia do bem e ajudaremos a instalar a paz duradoura.

Esperemos que esta sugestão seja aceita seriamente e posta em prática por todos os nossos estudantes, pois a necessidade é muito grande atualmente, maior do que já o foi em tempos passados.

 

CAPÍTULO XIII - O SIGNIFICADO ESOTÉRICO DA PÁSCOA

 

 

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