Ciência e Religião

Elsa M. Glover, PhD.

 


 

I. PERCEPÇÃO E CONSCIÊNCIA DAS DIMENSÕES ESPACIAIS

Alguma vez, você meditou sobre como o mundo se apresenta aos animais? Que pensará um caracol após chegar ao extremo de uma folha pela qual vinha se arrastando? Que pensará uma águia ao ver que um rato escondeu-se em um buraco na terra? Que pensará um cão ao ver que um automóvel modifica sua aparência ao aproximar-se dele e novamente a modifica depois de passar por ele e afastar-se? Tais exercícios de compreensão são inestimáveis não só porque podem nos ajudar a desenvolver simpatia e, portanto, amor para com os animais (e o amor por todas as criaturas é algo de muito valor), como também porque a relação que existe entre um animal e um ser humano pode resultar de um certo modo similar à que existe entre o homem e seres com capacidade sobre-humana, como Cristo. Portanto, estas reflexões podem melhorar nossa compreensão sobre os seres superiores.

Os cientistas materialistas observaram que o animal unicelular chamado ameba não tem olhos. Sua percepção sobre o que está em seu entorno está limitada basicamente a sentir os objetos com os quais entra em contato. Os anelídeos (vermes) são capazes de reagir a mudanças de luz e as estrelas-do-mar têm pontos sensíveis nas pontas de seus braços que podem responder a diferentes graus  de iluminação, mas não estão preparados para a formação de imagens. Os olhos dos insetos podem perceber a luz e a obscuridade, a direção e o movimento e, em alguns casos, o tamanho, mas não podem focalizar objetos a distâncias diferentes (embora diversas partes do olho possam ver coisas próximas ou distantes). A habilidade de focalizar é maior nos cefalópodes (polvos), peixes e anfíbios pelo desenvolvimento da capacidade de modificar a distância do cristalino à retina. Isso habilita o olho a focalizar na retina imagens de objetos a diferentes distâncias. A habilidade de focalizar encontra-se ainda mais refinada nas serpentes e nos vertebrados superiores com o desenvolvimento da capacidade de variar a curvatura do cristalino que permite a acomodação de objetos a diferentes distâncias. Quando estão presentes maiores habilidades de focalização, torna-se possível fazer um maior número de distinções visuais. Embora as moscas e os vermes da terra não distingam tamanho, as mariposas, as baratas, as tartarugas, as galinhas, os ratos e os macacos podem distinguir áreas de diferentes tamanhos. As abelhas, as vespas, as mariposas, as tartarugas, os pássaros, os cães, os guaximins e macacos mostraram habilidade para distinguir diferentes formas planas.

            Tanto nos pássaros como nos mamíferos e nos seres humanos, os nervos óticos entrelaçam parte de suas fibras em seu caminho para o cérebro de modo que cada retina envia fibras nervosas a ambos os hemisférios cerebrais. Dessa forma, os campos visuais de ambos os olhos se combinam. As imagens ligeiramente diferentes dos dois olhos dão juntas a aparência tridimensional aos objetos observados. Em alguns mamíferos, os olhos estão tão distantes um do outro que o campo de visão comum a ambos é muito pequeno. Mesmo os animais que dispõem da anatomia ocular e da estrutura nervosa apropriadas para a visão estereoscópica, têm habilidade limitada para servirem-se destas estruturas. Os pássaros podem distinguir formas planas mesmo que não demonstrem reconhecer recipientes diferentes. Os ratos têm dificuldade para avaliar a distância em que se encontra uma plataforma (com a finalidade de escolher a mais próxima ou saltar para plataformas localizadas em distâncias diferentes). Nos seres humanos, encontra-se muito desenvolvida, sem dúvida, a habilidade para ver claramente os objetos em profundidade e para perceber as distâncias.

            Como a ameba só é consciente de si mesma e das coisas com as quais se põe em contato, poderíamos dizer que sua percepção do espaço é essencialmente a percepção de um só ponto, ou seja, percepção de dimensão zero. A passagem de um estado de percepção a outro é gradual, até o ponto em que algumas formas intermediárias não se encontram claramente nem em um estado nem em outro. Os anelídeos e a estrela-do-mar têm algumas características de uma percepção de dimensão zero (dada sua incapacidade de perceber algo a menos que se ponha em contato com seus corpos), porém, está neles se desenvolvendo uma leve percepção  da consciência linear na medida em que podem perceber simultaneamente pontos diferentes de seus corpos. Os insetos que desenvolveram a habilidade de perceber a direção (embora nem tamanho nem forma) têm percepção linear, ou seja, unidimensional. Podem ver algo no exterior e decidir mover-se até o objeto ou separar-se dele. Aqueles insetos que mostram reconhecer tamanho e forma começam a distinguir superfícies, o que sugere percepção bidimensional. Esta percepção bidimensional se acha mais desenvolvida e refinada no peixe, nos anfíbios, nos répteis, nos pássaros e mamíferos. Os pássaros e mamíferos, com visão estereoscópica mas com dificuldades de perceber formas tridimensionais, acham-se na transição da percepção bidimensional para a tridimensional. Nós, seres humanos, temos a capacidade de reconhecer objetos de variados tamanhos e distâncias. Podemos perceber simultaneamente a longitude, a profundidade e a altura e, por essa razão, possuímos percepção tridimensional.

            Uma criatura que seja capaz de formar imagens mentais limitadas a um certo número de dimensões não será capaz de funcionar em um corpo com percepção dimensional superior àquele número de dimensões, porque chegarão sinais à mente que não poderão ser processados. Se uma consciência de dimensão zero habitasse um corpo humano, não poderia imaginar ao mesmo tempo as mãos e os pés e, ao chegarem simultaneamente sinais de ambas as partes do corpo, esses sinais seriam confundidos. Para as criaturas capazes de formar imagens mentais de um certo número de dimensões seria vantajoso ter um corpo ao menos com a mesma capacidade perceptiva e, assim, termina chegando o tempo em que tais corpos são construídos, de maneira que, em geral, a dimensão da capacidade perceptiva é igual à dimensão das imagens que a mente seja capaz de processar e igual à dimensão da consciência (com algumas exceções que aparecem durante os estados de transição).

            Para uma criatura de consciência zero dimensional, o mundo consiste de um ponto, que é o único que pode perceber. Qualquer coisa que entre nesse ponto parecerá vir de nenhuma parte e quando sair do ponto parecerá que deixará de existir. Se tal criatura fosse se mover sobre uma superfície, digamos uma folha, seria consciente de um ponto após o outro. Os pontos que tivesse deixado para trás seriam para ela passado. Os pontos que não tivesse ainda atingido, seriam para ela o futuro. Nós, entretanto, com a capacidade de ver toda a folha, poderíamos ver ao mesmo tempo o passado e o futuro da consciência zero dimensional.

            Para uma criatura com consciência de uma dimensão, o mundo seria unidimensional. Nada existe para ela, exceto aquilo que esteja na linha da qual é consciente. Se algo entra nessa linha, parecerá como se viesse do nada. Se algo sai, parecerá como se deixasse de existir. Se tal criatura move sua linha de visão, digamos, girando sua cabeça, verá um número de direções sucessivamente. Sua rota de percepção traçaria uma linha pela paisagem (como uma linha cruzando uma fotografia). De novo nós, com nossa visão de dimensão superior veremos de uma só vez o que a consciência unidimensional percebe como passado e futuro.

            Para uma criatura de consciência bidimensional, o mundo se apresenta bidimensional, como uma fotografia. Tal criatura só concebe um plano de existência. Se olha uma casa e alguém abre a porta e sai, para sua consciência tal pessoa surge do nada. Se caminha ao redor da casa, para ela esta parecerá mudar de forma e características, mesmo que para nós, com nossa consciência superior, vejamos que a casa tem forma constante.

            A consciência zero dimensional vê o mundo como zero dimensional, mas isso não faz com que o mundo seja zero dimensional. A consciência unidimensional vê o mundo como unidimensional, mas isso não torna o mundo unidimensional. O mesmo ocorre para a consciência bidimensional. Ante nossa consciência tridimensional, o mundo se apresenta como tridimensional, mas isso não exclui a possibilidade de que haja dimensões superiores.

            Observemos que, quando nós, com nossa consciência tridimensional, vemos o mundo de consciência dimensional inferior, podemos fazer com que as coisas surjam “do nada” ou desapareçam desse mundo e podemos ver seu passado e seu futuro de uma só olhada. Através da história, temos tido conhecimento de certas pessoas que demonstraram essa habilidade em nosso mundo tridimensional. Manifestaram a habilidade de fazer as coisas aparecerem e desaparecerem, de descrever eventos passados em que não estiveram presentes e de predizer o futuro (por isso se chamaram profetas). Cristo foi capaz de criar pães e peixes quando muita gente deles necessitava (Mateus 14:13-21) e de desaparecer no meio de uma multidão sem ser visto  (Lucas 4:28-30),  (João 8:59).  Foi capaz  de dizer  todo o  passado  de  pessoas  que  via  pela  primeira  vez (João 1:43-51),  (João 4:7-19), e em várias oportunidades Ele demonstrou conhecer por antecipação que experiências aguardavam a Ele e a Seus discípulos (Mat. 17:24-27, Mat. 20:18-19, Mat. 26:20-25, Mat. 26:31-35, Luc. 5:1-11). É razoável pensar que a consciência de Cristo e a dos  profetas pertenciam à quarta dimensão.

            Paulo, em sua carta  aos Efésios (3:14-18), escreveu: “Por isso eu dobro meus joelhos ante ao Pai...que Cristo habite pela fé em vossos corações e, arraigados e fundamentados no amor, possais compreender, em união com todos os santos, qual é a largura, a longitude, a altura e a profundidade”. Paulo incluiu aqui quatro dimensões e deixou implícito que não só os santos poderiam compreende-las, senão também que nós seríamos capazes de compreende-las quando Cristo habitasse em nossos corações e nos voltássemos “arraigados e fundamentados no amor”.

 


REFERENCIAS

- Abbot, Edwin A. Flatland. New York: Dover Publications, 1952.

- Ouspensky, P.D, Tertium Organum. Rochester, N. Y.: Manas Press, 1920.

- Washburn, Margaret F. The Animal Mind. N.Y.: Macmillan, 1926.


Cap. II: A Função da Ciência e da Religião na Busca da Verdade

 

 

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