Quarteto de cordas

Por  Rodrigo Ricardo

 

 

Transcrito  do JORNAL DA UFRJ  - Gabinete do Reitor • Coordenadoria de Comunicação da UFRJ • Ano 3 • Nº 34 • Maio de 2008

O professor e violoncelista Eugen Ranevesky exibe uma memorável foto do QUARTETO BRASILEIRO DA UFRJ , conhecido no circuito internacional como BRAZILIAN STRING QUARTET, que teve em sua composição  músicos do quilate de Santino Parpinelli: violino; Jaques Nirenberg: violino;  Henrique Nirenberg: viola;  Eugen Ranevsky: violoncelo,  Henrique Morelenbaum: violino,  João Daltro de Almeida: violino e Ivan Sergio Nirenberg : viola.


"Cada pessoa representa uma nota”, ensina Eugen Ranevsky, mencionando o pensamento do filósofo grego Sócrates (470 a 399 a.C.) para explicar a dimensão transcendental da música. “Quando você sente simpatia por alguém é porque vibraram em uníssono”, afirma, aos 85 anos, o professor aposentado da Escola de Música (EM) da UFRJ, que não perde o ritmo na defesa da cultura ao criticar a negligência dos governantes.

“Preocupam-se com a gasolina, o trigo, os juros, mas o atraso cultural prejudica a todas as áreas”, critica o violoncelista, que não se cansa em apontar o caminho para a busca da compreensão: “a música facilita o entendimento humano, um meio de comunicação capaz de transmitir diferentes mensagens. Tive uma vida difícil, mas se a música não existisse seria muito pior”.

A estréia de Eugen nos palcos acontece aos quatro anos. Filho de atores é criado em Odessa, próximo ao mar Negro, na Ucrânia, nascido durante a excursão dos pais por Lublin, na Polônia.

O talento musical seria descoberto na adolescência por uma professora. Entretanto, o jovem não se entrosa com o piano, levando-o ao encontro com o violoncelo. Acompanhado do instrumento percorreria o mundo; antes, conclui os estudos na Alemanha e desembarca, junto com a esposa Violeta Kundert, no Brasil de 1949, a convite da direção da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro.

Conhecedor, na pele, do regime comunista e do nazismo, Eugen Ranevsky considera o brasileiro um povo maravilhoso, mas que precisa se preparar para ser livre. “Hoje se faz tudo em nome da liberdade, mas ela tem que ser consciente, não pode ser uma estupidez”, aponta o músico, avistando provas claras da imaturidade do componente humano e de uma “absoluta falta de coração”.

Quarteto Brasileiro

Durante meio século, Eugen Ranevsky integra o Quarteto Brasileiro da UFRJ e lamenta a falta de continuidade do conjunto pelos mais jovens, mais interessados em retorno econômico.

“Eles também não sobrevivem, porque as pessoas precisam se entender, mesmo que tenham temperamentos diferentes. É uma lição de convivência. Pode haver discussão, mas com respeito”, afirma o tradutor do livro Quartetos de cordas: teoria e prática (Editora UFRJ, 2003) do russo L. N. Raaben. De 1960, a obra trata-se de uma referência para o gênero de câmara composto por dois violinos, uma viola e um violoncelo.

“Hoje já não há mais um quarteto que represente a universidade, inclusive internacionalmente como fazíamos. A conjuntura tornou-se mais difícil, pois existem poucos professores. Sou o único de violoncelo e há instrumentos, como a tuba, sem mestres. O tempo ainda é escasso para conciliar as aulas com os ensaios. O quarteto exige muita dedicação até se alcançar uma identidade para se executar vasto repertório”, avalia o músico.

Mozart, Beethoven, Schubert, Tchaikovsky e inúmeros mestres dedicaram partituras à formação. “Todo bom compositor escreve para quarteto por ser a essência e a base para qualquer número de instrumentos. A orquestra é um desdobramento”, pontua Eugen, recordando que quis traduzir o livro de modo simples para servir aos artistas em geral, amadores ou profissionais.

No capítulo Algumas palavras, do livro, Ranevsky descreve que encontrou o original, em russo, “atraído por um anúncio de liquidação” numa livraria carioca. Da idéia da tradução à concepção final passaram-se quase dez anos. “Escrevo muito mal em português”, admite, ressaltando a importância do violinista e também professor aposentado da EM/ UFRJ, Jaques Niremberg, na adaptação e revisão da obra. “(...) o quanto era profundo e difícil pôr em ordem direta o que fora traduzido ipsis literis. Cheguei certos momentos a fraquejar, vendo-me  diante de colocações tipicamente idiomáticas (...). Fiz essas ponderações, e Ranevsky apresentou-me, então, a carta do autor, com a permissão para publicar o livro e traduzí-lo livremente. Foi um alento (...)”, reporta Niremberg na introdução da publicação.

Segundo Ranevsky, a música descansa a mente, é capaz de reunir as pessoas. É comum que “elas se encontrem para jogar cartas e outras coisas, mas fazendo música você se enriquece muito mais”. Ranevsky recorda o colega, fagotista, que todo domingo sentava-se com a família para tocar flauta doce. ”Ele é oriundo de um país nórdico, onde há um dito popular que diz que quem toca junto permanece junto”.

A alma da palavra

Para os desafinos contemporâneos, de atitudes que beiram ao doentio, o professor receita a música como meio para harmonizar a sociedade. “Quem toca em quarteto de cordas não vai jogar uma criança pela janela”, garante Ranevsky, comparando a Santíssima Trindade dos religiosos (Pai, Filho e Espírito Santo) com a melodia, harmonia e ritmo: “são as colunas sustentadoras. No princípio era o verbo, a música, que é a alma da palavra”.

De onde venho? Porque estou aqui? Para onde vou? As interrogações socráticas são as senhas do professor àqueles que buscam acertar o tom para a existência, pontuando que a pessoa que não acredita em Deus é cega. “Esse autor desconhecido pode ser um ou muitos, mas não acreditar demonstra falta de lógica”, destaca o professor.

Questionado se ainda pratica o violoncelo, Ranevsky responde que sente saudades e que a arte exige um preparo técnico semelhante ao de um atleta. Ele ainda critica aos que indicam apenas música clássica para os ouvidos. “A MPB é excelente. Boa música possui diversas roupagens e precisa transmitir uma mensagem”, sublinha o violoncelista, classificando certos sons ingleses e estadunidenses como péssimos para os ouvintes. “Ninguém entende a letra e a música. É uma agressão, mas batem palmas. Outro dia, perguntei ao filho de um amigo porque gostava daquele som pesado? Ele me respondeu que era um convite a ‘chutar o balde’. Pois bem, é exatamente isso, porém, não se pode viver para sempre a ‘chutar baldes’”.

 Rodrigo Ricardo

14 de Maio de 2008

 


 

 

O quarteto de cordas: teoria e prática

Quarteto Brasileiro da UFRJ

Classical Archives - Music for the rest of us

Classical Archives - Joseph Haydn  - The Seven Last Words on the Cross, arr. for string quartet, Op.51, Hob.III:50-56

Joseph Haydn - The Seven Last Words of our Savior on the Crossfor string quartet or string quintet Op. 51 (Hob. III:50-56) 

 

 

 

 

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