Evolucionismo


Evolução ou Criação?

Bicentenário do Nascimento de Charles Darwin

Charles Darwin (1809-1882) criou as bases para uma nova concepção do mundo natural. Depois de uma viagem à volta do mundo em que recolheu fundamentos daquilo a que chamou «selecção natural das espécies». Em 1859 publica A Origem das Espécies, em que explica a evolução das espécies vivas a partir de um ancestral comum, em vez de permanecerem imutáveis como antes se pensava. Depois ampliou as suas ideias, para o caso específico do homem, numa outra obra: As Origens do Homem e a Selecção Sexual (1874). Darwin baseia-se nos parentescos morfológicos, no desenvolvimento desigual de órgãos semelhantes ou na adaptação destes às suas funções, etc. Acrescente-se a isto a existência de órgãos vestigiais, inúteis na actualidade. E as provas imunológicas, através das quais se provaria o parentesco entre espécies diferentes. Por fim, poderá citar-se a semelhança na composição dos seres vivos à escala molecular.

Surgimento das Espécies e Evolução

S. Tomás pensava que as espécies vivas foram criadas por Deus no seu estado actual1. Mas a verdade é que a vida não surgiu na terra como algo feito e acabado. Emerge no interior do processo criador do Cosmo e está estruturalmente radicada no tecido cósmico, a Subtância-Raiz-Cósmica2. Os elementos químicos que estruturam os seres vivos são componentes do tecido cósmico no seu estado pré-vivo. «Quer consideremos a montanha, quer a nuvem que a coroa, a seiva da planta ou o sangue do animal, a teia da aranha ou a asa da borboleta ou os ossos do elefante, o ar que respiramos ou a água que bebemos, tudo é formado pelas mesmas substâncias químicas»3. E noutro passo diz ainda o Conceito: «O que determina a conformação dessa substância básica na múltipla variedade de corpos e de formas é o Espírito Universal, expressando-se a Si próprio no mundo visível sob a forma de quatro grandes correntes de vida, em diversos graus de movimento». Surgem, assim, novas leis no interior do processo criador. Com o salto para a vida, as energias cósmicas atingem o nível de dinamismo auto-regulador. O organismo vivo não cresce por justaposição. Um organismo vivo não é apenas um conjunto de células a actuar cada uma para seu lado. Há nele um processo de interacção solidária para defender a integridade do todo. Faz a assimilação e integração do distinto. E que nos organismos vivos existe um centro de controlo que coordena o processo de procura e integração e energias, bem como o de eliminação de resíduos, tarefa associada ao veículo que denominamos «corpo vital».
Esta procura instintiva de energias úteis e a rejeição das nocivas revela claramente uma finalidade. Nas reacções físico-químicas a nível dos elementos pré-vivos, no reino mineral, ainda não se pode detectar facilmente um impulso de aperfeiçoamento ou uma finalidade. Mas ao nível do fenómeno vital, no reino vegetal e animal, esta finalidade começa a detectar-se. A nível do homem, a procura da finalidade é fundamental para a realização pessoal. E a interacção solidária faz-se através de uma dinâmica relacional de serviço.
Mas esta finalidade não significa determinismo. A finalidade da Manifestação, ou Criação, não é algo inscrito de fora. O desenvolvimento dos organismos vivos não se faz de modo linear e predeterminado. Na sua evolução não existe o determinismo. O cosmo vai-se pondo no real, ou realizando, através da concretização dos possíveis. Os possíveis estão inscritos no real como possibilidades, isto é, como portas abertas a novas realizações. Sempre que um possível se realiza, novo leque de possibilidades de abre. Tudo surge dentro de uma sequência de causas-efeitos. Como os efeitos não estão separados das causas, é a realização destas que concretiza aqueles.
Também nada acontece por acaso. Nas manifestações da vida apenas acontece o possível, o que está determinado no arquétipo. No Universo não acontece qualquer coisa, mas aquilo que é possível. Todos os acontecimentos têm as suas leis próprias. O impossível não acontece. Assim, os possíveis actuais dependem das concretizações anteriores, das concretizações actuais dependem possíveis futuros.
Em certos momentos da manifestação, a vida bifurca-se. Primeiro no reino animal, o mais antigo; depois no vegetal.
Cada uma das espécies dos reinos vegetal e animal é uma unidade evolutiva. Tem a vantagem de impedir a estagnação do processo evolutivo. No interior de uma espécie podem ir-se provocando mutações genéticas causadas pela necessidade de novas e profundas adaptações ao meio ambiente. Por isso, a espécie não é fixa. É uma grandeza aberta para o mais perfeito. As novas espécies são parentes evolutivos próximos da espécie-mãe.


O Ancestral do Homem

O certo é que Deus não criou o homem como ser acabado ao ponto de este não tomar parte na sua própria criação. Deus não é um «faz tudo» que se coloca ao nível da determinação dos fenómenos. O Universo desenvolve-se segundo um processo autónomo. Vai-se edificando e constituindo segundo uma sequência de causas-e-efeitos.
A Humanidade começou a sua evolução como multidão e não apenas como um casal inicial. Já aludimos noutra ocasião à suposta indeterminação que gravita sobre o significado, colectivo ou individual, do termo adam (homem) no sétimo versículo do segundo capítulo do Génesis. Opinamos que o adam tem aqui o sentido colectivo de espécie humana, integrada por indivíduos dos dois sexos.
O ponto de partida da Humanidade é um leque enorme de genótipos que se vão constituindo em raças e varia no interior de cada uma.
A tese do monogenismo é cientificamente insustentável e biblicamente indefensável. Desde o começo, a Humanidade é plural. Apesar do pluralismo genético assenta numa unidade evolutiva.
Esta unidade manifesta-se no facto de ser possível a hibridação entre diversas raças. É preciso prevenir a tentação de confundir a raça humana com a espécie. Certamente a humanidade actual não conserva todas as raças que se concretizaram ao longo da evolução4. Isto, no entanto, não nos autoriza a classificar como outro tipo de homem, desligado do actual, as raças que já tenham desaparecido.
É oportuno mencionar agora, a traços largos, a história do evolucionismo. Relativamente recente, é fácil de seguir.
Lamarck (1744-1829) expôs na sua Filosofia Zoológica a ideia básica do transformismo, ou seja, que os seres vivos foram originados por um processo de evolução em que umas espécies se transformam noutras diferentes. Para ele, o mecanismo da evolução era a hereditariedade dos novos caracteres adquiridos pelos seres vivos, no seu esforço por se adaptarem ao meio em que vivem. O exemplo clássico é o da girafa: desenvolveu um pescoço muito alto para chegar ao necessário alimento. Darwin acolheu de Lamarck a ideia do transformismo mas propôs uma explicação diferente: o mecanismo da evolução seria a selecção natural. Darwin inspirou-se em Malthus5. Com base nas suas ideias, pôde afirmar que na luta pela vida se dá a sobrevivência do mais apto e, portanto, haveria uma selecção natural. O evolucionismo darwinista enraizou-se rapidamente. E depois de 1930 passou a explicar a evolução como resultado da combinação das mutações genéticas ao acaso com a selecção natural.
Se nos referirmos apenas à sequência dos passos evolutivos desde os primeiros hominídeos (seres com aspecto de homem), os «nossos parentes mais próximos», ao homem actual, ou homo sapiens: australopitecos – homo habilis – homo erectus – homo sapiens – diremos que apresenta muitas dúvidas. As discordâncias são enormes. A comparação das moléculas do ADN dos gorilas, chimpanzés e humanos, permite identificar a configuração do gene comum às três espécies. Admite-se que os gorilas foram os primeiros a separarem-se do antepassado comum, logo seguidos pelos chimpanzés. Mas nenhum trabalho ou estudo anatómico, até o mais conscencioso, permite afirmar que os seres humanos tenham alguma vez caminhado apoiados nos nós dos dedos das mãos, como os gorilas e chimpanzés. Max Heindel põe frontalmente a questão de os simpáticos animais que visitamos nas jaulas dos jardins zoológicos serem uma degeneração da árvore evolutiva para os humanos modernos6.
Cientistas de primeira categoria não estão sequer de acordo sobre se o homem nasceu, ou não, em África. As dúvidas afectam todas as hipóteses de transição, do primeiro ao último grupo. E as datas assinaladas podem vir a admitir valores muito diferentes. Por muito peso que possam ter outras provas, é preciso lembrar que não há outras manifestações do facto evolutivo além das formas fósseis. É difícil, em muitos casos, determinar com certeza se se deu ou não evolução num âmbito determinado, ou em que medida ela ocorreu.


Conclusão

Apesar de todas as incertezas, que os próprios evolucionistas reconhecem existir, não há dúvida que os dados são favoráveis à hipótese evolucionista. Seria pouco plausível dizer que os seres aparecem do nada, ou desde o nada, ou a partir do nada, Ex Nihilo em latim, ou seja, que antes não havia qualquer espécie de matéria pré-existente.
O que se afigura ser um ponto fraco do evolucionismo, a que muitos evolucionistas se agarram emocionalmente, é o acaso, noção que significa ausência de causas, a recusa de querer entender racionalmente os fenómenos e investigar certas leis que norteiam o seu processo. O acaso torna-se uma espécie de deus de conveniência.
Felizmente já se ouvem algumas vozes que admitem a existência de leis biológicas ainda desconhecidas e que devem ser procuradas. A opção pelo acaso tem que refugiar-se cada vez mais numa probabilidade que, matematicamente, diminui à medida que se conhece mais a natureza. Além disso, o acaso tende à desorganização. Ora, os seres vivos evoluem para melhor, para o aperfeiçoamento e a complexidade e não para o caos.
A continuidade morfológica que existe entre todas os viventes é um facto conhecido. Mas não é lícito introduzir aqui um nexo causal ao afirmar que umas formas procedem das outras com base exclusiva na semelhança morfológica entre elas.
Diante dos factos citados só existem duas escolhas. Ou todas as peças se juntam por um tremendo acaso, ou existe uma finalidade na natureza. São duas posições que divergem. Quanto à primeira, parece disparatado dizer que alguém «poderia atirar ao ar uma caixa de caracteres tipográficos e que eles se organizariam a si mesmo quando chegassem ao solo, formando um belo poema»7. Há uma crescente acumulação de provas que contraria esta convicção. Resta-nos assim a opção pela finalidade, desse facto clamoroso na natureza de que todas as coisas agem por um fim, para atingir um fim, ainda que nem todas tenham consciência disso. Há, por assim, dizer, um plano director na natureza.
Como se vê no Conceito, o evolucionismo e as conclusões da ciência não se opõem aos textos bíblicos. Uma reflexão menos extremista, ou «ultracriacionista», poderia servir para uma melhor compreensão do mecanismo da evolução. Mas ainda há quem sofra do «complexo de Galileu». E à indiferença com que os filósofos e cientistas encaram o criacionismo, respondem os seus defensores com a inquieta insinuação de haver uma contínua incursão no terreno teológico.
O Eclesiastes ensina uma realidade importantíssima: que as palavras de todos os sábios parecem ter sido proferidas pela mesma boca. À primeira vista, os sábios são as pessoas menos concordantes, mais inquietantes e divergentes que há, levando vidas inteiras a criticar pensamentos alheios e a propor as suas próprias explicações e visões do mundo. Mas esta atitude resume apenas as múltiplas vias de alcançar o mesmo objectivo irredutível: o conhecimento do homem e da sua acção espiritual no mundo, que tem de ser visto em movimento, com todas as coisas e seres a modificarem-se, a evoluírem.

F. C.


Bibliografia

Amorim, António, A Espécie das Origens (2002); Lisboa, Gradiva – Behe, Michael, A Caixa Negra de Darwin (2008); Ésquilo, Lisboa – Darwin, Charles, A Origem das Espécies (2009): Lello Editores, Porto – Id., As Origens do Homem e a Selecção Sexual (2009); Relógio de Água, Lisboa – Le Fanu, James, Porquê Nós? (2009); Porto, Livraria Civilização Editora – Picq, Pascal, Nova História do Homem (2009); Temas e Debates, Lisboa.


Glossário

Genótipo – Conjunto total da informação genética contida num organismo.
Hominídeos - Família do grupo dos primatas que compreende o austropithecus e o homo.
Raça – Grupo, dentro da mesma espécie, com características semelhantes.


Notas

1. Suma de Teologia, 1 q 118 a 3, ad 2, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1997.
2. M. Heindel, Conceito Rosacruz do Cosmo, 4ª ed., Lisboa, 2005; pág. 149.
3. M. Heindel, ob. cit., id., pág. 28; cf. pág. 255 e ss.
4. M. Heindel, ob. cit., id., pág. 184 e ss.
5. Tomás R. Malthus (1766-1834). Economista inglês. Num ensaio sobre a população humana sustentou que só os mais fortes sobreviviam à escassez de alimento.
6. M. Heindel, ob, cit., id. pág., 269-270.
7. M. Heindel, ob. cit., id. pág., 104.

 


 Fonte: 

Fraternidade Rosacruz de Portugal


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Fraternidade Rosacruz de Portugal


 

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