Max Heindel

Coletâneas de um Místico

 

Carl Louis Fredrick Von Grasshoff

[MAX HEINDEL]

(1865-1919)


SUMÁRIO

PREFÁCIO 3

CAPÍTULO I 4

Iniciação: O que é e o que não é 4

Primeira Parte 4

CAPÍTULO II 7

Iniciação: o que é e o que não é 7

SEGUNDA PARTE 7

CAPÍTULO III 10

O Sacramento da Comunhão 10

Primeira Parte 10

CAPÍTULO IV 13

O Sacramento da Comunhão, em minha memória 13

Segunda Parte 13

CAPÍTULO V 17

O Sacramento do Batismo 17

CAPÍTULO VI 20

O Sacramento do Matrimônio 20

CAPÍTULO VII 24

O Pecado Imperdoável e as Almas Perdidas 24

CAPÍTULO VIII 27

A Imaculada Concepção 27

CAPÍTULO IX 30

A Volta de Cristo 30

CAPÍTULO X 33

A Próxima Era 33

CAPÍTULO XI 36

A Carne e a Bebida como fatores na Evolução 36

CAPÍTULO XII 40

Um Sacrifício Vivente 40

CAPÍTULO XIII 43

Magia Branca e Negra 43

CAPÍTULO XIV 46

Nosso Governo Invisível 46

CAPÍTULO XV 49

Preceitos Práticos para Pessoas Práticas 49

CAPÍTULO XVI 52

O Ruído, O silêncio e o Crescimento Anímico 52

CAPÍTULO XVII 56

O "Magno Mistério" da Rosacruz 56

CAPÍTULO XVIII 59

Pedras de Tropeço no Caminho 59

CAPÍTULO XIX 63

A Eclusa da Elevação 63

CAPÍTULO XX 66

O Significado Cósmico da Páscoa 66

Primeira Parte 66

CAPÍTULO XXI 69

O Significado Cósmico da Páscoa 69

Segunda Parte 69

CAPÍTULO XXII 72

O Cristo Recém-Nascido 72

CAPÍTULO XXIII 75

Porque sou um Estudante Rosacruz 75

CAPÍTULO XXIV 78

O Objetivo da Fraternidade Rosacruz 78



PREFÁCIO

 

Os assuntos tratados neste livro estão dentre os últimos escritos de Max Heindel, o místico. Eles contêm alguns de seus pensamentos mais profundos e são o resultado de anos de pesquisa e investigação oculta. Ele poderia dizer também como Parsifal: "Através do erro e do sofrimento, através de muitos fracassos e de incontáveis angústias, eu vim". Finalmente, foi-lhe dada a água vivificante com a qual pôde saciar a sede espiritual de tantas almas. Desenvolveu profundamente a piedade, o amor e pôde sentir o palpitar do coração da humanidade sofredora.

Normalmente, almas fortes são dotadas de grande energia e iniciativa e, através dessas forças, galgam posições de vanguarda, embora, freqüentemente, sofram muito. Em conseqüência, sentem imensa compaixão pelos outros. O autor destes ensinamentos sacrificou seu corpo físico no altar do serviço.

Ao escrever os livros e as lições mensais da Fraternidade, ao proferir palestras e aulas, e no árduo trabalho pioneiro de fundar a Sede Mundial no curto período de dez anos, Max Heindel realizou mais do que muitos poderiam fazê-lo em toda uma vida, mesmo que tivessem saúde perfeita. Seu primeiro livro, sua obra-prima, "O Conceito Rosacruz do Cosmos", foi escrito sob orientação direta dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz. Este livro leva uma mensagem vital para o mundo. Satisfaz não apenas o intelecto, mas também o coração. O livro "Maçonaria e Catolicismo" pode ser encontrado em muitas bibliotecas maçônicas. O ocultista aprende muito com o livro "A Teia do Destino", que é uma fonte de conhecimentos místicos e de proveitosas verdades ocultas. É também um guia para o investigador, quando indica os sinais de perigo aos aventureiros que desejam tomar o céu por assalto. Para a ciência da astrologia, ele deu, em poucos anos, mais informações do que haviam sido dadas anteriormente, em séculos. Seus dois valiosos trabalhos, "Astrologia Científica Simplificada" e "A Mensagem das Estrelas" tratam amplamente dos aspectos espirituais e médicos da astrologia. O último fornece métodos de diagnóstico e cura, o que constitui um acréscimo valioso para os trabalhos de outros autores, tanto antigos quanto modernos. Estes livros podem ser encontrados nas bibliotecas de muitos médicos da escola antiga.

Em "Coletâneas de um Místico" encontramos vinte e quatro lições que foram, originalmente, enviadas aos estudantes. É desejo da autora deste prefácio, que estas lições levem uma mensagem de amor e alegria aos leitores com sede de conhecimentos espirituais e esperança aos desconsolados.

 Augusta Foss Heindel



 

CAPÍTULO I

 

Iniciação: O que é e o que não é

Primeira Parte

 

Freqüentemente recebemos perguntas referentes à Iniciação, e pedem-nos para informar se esta ou aquela ordem ou sociedade são genuínas e se as iniciações que elas oferecem aos interessados são de "confiança", Por esta razão, parece-nos necessário fazer uma dissertação sobre o assunto, para que os estudantes da Fraternidade Rosacruz possam ter um esclarecimento que lhes sirva de referência e orientação no futuro.

 Em primeiro lugar, gostaríamos de deixar bem claro que consideramos repreensível condenar determinada ordem ou sociedade e fazer qualquer julgamento de suas práticas, pois podem ser sinceras e honestas, de acordo com a sua luz. Não acreditamos poder subir no conceito das pessoas discriminando homens e mulheres em termos depreciativos. Nem temos a ilusão de que nós possuímos toda a verdade e que as outras sociedades estão imersas nas trevas. Reiteramos o que muitas vezes já dissemos, que todas as religiões foram dadas à humanidade pelos Anjos do Destino, que conhecem as necessidades espirituais de cada classe, nação e raça, e têm a sabedoria de dar a cada uma, a forma de adoração adequada à sua necessidade particular. Assim, o Hinduísmo é apropriado ao hindu, o Islamismo ao árabe e a religião Cristã aos nascidos no Hemisfério Ocidental.

 As Escolas de Mistérios de cada religião fornecem aos membros mais avançados da raça ou nação que a adote, um ensinamento mais elevado, o qual, se vivenciado, os coloca numa esfera superior de espiritualidade em relação aos seus irmãos. Assim como a religião das raças mais atrasadas é de uma ordem inferior à religião dos pioneiros - as nações Cristãs - assim também os Ensinamentos das Escolas de Mistérios Orientais são mais elementares que os do Ocidente, e os iniciados hindus ou chineses estão num grau de realizações correspondentemente inferior ao do místico ocidental. Consideremos isto profundamente, para que não sejamos vítimas de pessoas mal informadas que tentam persuadir-nos que a religião Cristã é cruel, comparada com os cultos orientais. Sempre para o oeste, seguindo o sol brilhante - a luz do mundo - caminhou a estrela do império. Por que não admitir que a luz espiritual acompanhou a civilização ou mesmo a precedeu, assim como o pensamento precede a ação? Consideramos a religião Cristã como a mais elevada dada ao homem até o momento presente, e repudiá-la, seja ela exotérica ou esotérica, por qualquer sistema antigo, é, o mesmo que preferir desatualizados livros científicos aos mais novos que encerram descobertas recentes.

 As práticas do aspirante oriental que pretende obter uma vida mais elevada, não devem ser imitadas pelos ocidentais; referimo-nos, particularmente, aos exercícios respiratórios. Estes são benéficos e necessários ao desenvolvimento do hindu, mas o mesmo não se aplica ao aspirante ocidental. É perigoso praticar tais exercícios de respiração almejando o desenvolvimento anímico. Estes exercícios poderão até prejudicar tal desenvolvimento e são totalmente desnecessários. A razão é a seguinte:

 Durante a involução, o tríplice espírito, gradualmente, incrustou-se em um tríplice corpo. Na Época Atlante, o homem estava no nadir da materialidade. Presentemente, a humanidade está passando pelo ponto mais baixo do arco da involução e começa a subir o arco da evolução. Estamos encerrados nesta prisão terrestre e, de tal forma, que as vibrações espirituais permanecem quase extintas. Isto realmente acontece nas raças mais atrasadas e nas classes inferiores do mundo ocidental. Os átomos nos corpos de tais raças atrasadas vibram com intensidade bastante baixa e quando, com o correr do tempo, uma pessoa consegue desenvolver-se e progredir, é necessário elevar esse grau vibratório do átomo para que o corpo vital, que é o agente do crescimento oculto, possa ser, até certo ponto, liberado da força enfraquecedora do átomo físico. Esse resultado é atingido por meio de exercícios respiratórios que, com o tempo, aceleram a vibração do átomo e permitem o crescimento espiritual necessário a cada um.

 Esses exercícios também podem ser praticados no mundo ocidental; especialmente por pessoas que não estão realmente preocupadas com o seu desenvolvimento espiritual. Mas, mesmo entre as que desejam o crescimento anímico, muitas ainda não atingiram o ponto em que os átomos de seus corpos evoluíram a um grau suficiente de vibração, portanto, a aceleração deles, além da medida habitual, poderia prejudicá-las. Nestes casos, os exercícios de respiração não causariam grande dano. Mas, se forem dados a uma pessoa que está prestes a trilhar o caminho do desenvolvimento, quase preparada para a Iniciação e poderia ser beneficiada por exercícios espirituais, então, o caso torna-se bem diferente.

 Durante as várias eras que percorremos no processo da nossa evolução, desde quando estávamos em corpos hindus, nossos átomos vêm acelerando enormemente seus graus vibratórios e, como foi explicado no caso da pessoa que está próxima da Iniciação, o grau de vibração resulta mais elevado do que o da média humana. Portanto, a pessoa não precisa de exercícios respiratórios para acelerar este grau, mas de certos exercícios espirituais que sejam individualmente adequados para seu progresso no caminho certo. Se neste período crítico, ela encontra alguém que, por ignorância e inescrupulosamente, lhe ensina exercícios respiratórios que praticará corretamente na esperança de obter resultados mais rápidos, na verdade os obterá, mas não da forma que esperava, pois o grau vibratório dos átomos em seu corpo se tornará, em pouco tempo, tão acelerado, que terá a sensação de estar caminhando no ar. Poderá ocorrer também uma divisão imprópria no corpo vital, o que causará um desgaste físico e até mesmo a insanidade. Assim, grave bem em sua consciência e com letras de fogo, o seguinte: A Iniciação é um processo espiritual, e o progresso espiritual não pode ser efetuado por meios físicos mas somente por exercícios espirituais.

 Existem muitas ordens no Ocidente que alegam iniciar qualquer pessoa, desde que pague por isso. Algumas dessas ordens têm nomes parecidos com o nosso e muitos estudantes nos perguntam se estão ligadas a nós. Para resolvermos definitivamente essa questão, lembrem-se que a Fraternidade Rosacruz tem constantemente afirmado que nenhum dom espiritual pode ser negociado por dinheiro. Reiteramos que não temos ligação com nenhuma ordem que solicite dinheiro para transmitir poder espiritual. Aquele que tem algo a oferecer de natureza verdadeiramente espiritual, não o trocará por dinheiro. Recebi um especial mandato a este respeito dos Irmãos Maiores no Templo Rosacruz, quando me foi dada a missão de servir como seu mensageiro no mundo de língua inglesa. Não pretendo que acreditem nisso, salvo se virem que ela é justificada por seus frutos.

 Porém, voltemos à Iniciação. O que é? É uma cerimônia como é praticada por certas ordens? Se assim for, qualquer ordem poderá elaborar cerimônias com formas as mais diversas. Podem apelar para as emoções através de roupas pomposas e choque de espadas. Podem suscitar sentimentos de admiração e medo ao arrastar correntes e fazer ressoar gongos, e assim produzir em seus seguidores uma "sensação oculta". Muitos se deleitam com as aventuras e experiências do herói do "O Irmão do Terceiro Grau", pensando ser isto a Iniciação, mas eu asseguro que está muito longe de ser assim. Nenhuma cerimônia pode dar a alguém a experiência interna que constitui a Iniciação, não importa quanto foi pago ou quão impressionantes tenham sido os juramentos, quanto a cerimônia decorreu terrível ou admirável, ou quanto as vestimentas eram maravilhosas. Passar por uma cerimônia não converte um pecador em um santo. A conversão é, para o religioso exotérico, exatamente o que a Iniciação é no misticismo elevado. Considerem este assunto profundamente e obterão a chave para o problema.

 Acreditam que alguém possa aproximar-se de uma pessoa de caráter depravado, aceitar convertê-la em troca de certa soma de dinheiro e cumprir seu compromisso? Sabemos que nenhuma quantia realizaria essa transformação no caráter de um homem. Perguntem a um verdadeiro convertido onde e como adquiriu sua religião. Um poderá dizer que a recebeu enquanto caminhava; outro dirá que a luz e a mudança alcançaram-no na solidão de seu quarto; outro ainda, que a luz incidiu sobre ele, como aconteceu a Paulo na estrada de Damasco, convertendo-o. Cada um possui uma experiência diferente mas, em cada caso, é uma experiência interna e a manifestação externa desta experiência interna é que transforma toda a vida do homem, em todos os seus aspectos.

 O mesmo acontece com a Iniciação: é uma experiência interna, completamente separada e à parte de qualquer cerimonial, portanto, é totalmente impossível que alguém possa comercializá-la. A Iniciação transforma por completo a vida de um homem. Dá-lhe uma confiança que jamais possuiu. Envolve-o com o manto de autoridade que nunca ser-lhe-á tirado. Não importam as circunstâncias que se apresentem na vida, ela difunde uma luz sobre todo seu ser que é simplesmente maravilhosa. Nenhuma cerimônia pode efetuar tal transformação. Portanto, repetimos que aquele que oferecer a iniciação em uma ordem ocultista por dinheiro e através de cerimônias, qualifica-se de imediato como um impostor. Se um aspirante aproximar-se de um verdadeiro Mestre oferecendo-lhe dinheiro para obter conhecimentos espirituais, por certo ouvirá as mesmas palavras indignadas proferidas por Pedro a Simão, o feiticeiro, que lhe ofereceu dinheiro para obter poderes espirituais: "Tua prata morrerá contigo".

 


 


 CAPÍTULO II

 

Iniciação: o que é e o que não é

SEGUNDA PARTE

 

Para compreender melhor o que constitui a Iniciação e quais são os seus pré-requisitos, o estudante deve observar cuidadosamente que uma grande parte da humanidade está evoluindo e, de forma lenta e quase imperceptível, conseguindo atingir estados de consciência cada vez mais elevados. O caminho da evolução é uma espiral quando o observamos unicamente sob o lado físico, mas é uma lemniscata quando visto tanto em seu lado físico como no espiritual (Veja o diagrama do caduceu químico no "O Conceito Rosacruz do Cosmos"). Na lemniscata, ou forma de oito, há dois círculos que convergem para um ponto central e esses círculos podem ser considerados símbolos do espírito imortal, o ego em evolução. Um dos círculos significa sua vida no mundo físico, do nascimento à morte. Durante este curto período de tempo, ele planta uma semente em cada ato praticado e, em troca, colherá uma correspondente experiência. No entanto, do mesmo modo que podemos semear e nada colher daquela semente porque caiu em solo pedregoso, entre espinhos, etc., também a semente da oportunidade pode perder-se devido à negligência no lavrar o solo. A vida será, então, infrutífera. Por outro lado, à medida que a atenção e o cuidado no cultivo aumentam imensamente a força produtiva da semente, assim também a séria dedicação aos vários afazeres da vida - aproveitamento das oportunidades para aprender as lições de cada dia e extrair delas a experiência que contêm - redunda em mais oportunidades e, ao fim de um dia de existência, o ego encontra-se à porta da morte carregado com os mais ricos frutos colhidos através da vida.

 Ao terminar o trabalho objetivo da existência física, quando o dia de ação acabou, o ego entra no trabalho subjetivo da assimilação, realizado durante sua permanência nos mundos invisíveis, que compreende o período desde a morte até ao nascimento, simbolizado pelo outro anel da lemniscata. Como o método de realizar esta assimilação já foi minuciosamente descrito em várias partes de nossa literatura, não é necessário repeti-lo aqui. Relembramos, no entanto, que no momento em que um ego chega ao ponto central na lemniscata, a qual divide os mundos físico do psíquico e que chamamos a porta do nascimento ou da morte - designação dependente do lugar onde nós próprios estejamos no momento desse ego entrar ou sair da vida - ele traz consigo um conjunto de faculdades ou talentos adquiridos em suas vidas anteriores, e que poderá usá-los ou não durante sua próxima existência. Seu crescimento anímico dependerá do uso que fizer de seus dons.

 Se por muitas vidas ele satisfez principalmente a natureza inferior, viveu para comer, beber e divertir-se, sonhou e passou a vida em especulações metafísicas sobre a natureza de Deus, abstendo-se sempre de todas as ações necessárias, evidentemente será deixado para traz pelos mais diligentes e progressistas. Agrupamentos desses preguiçosos formam o que chamamos "raças atrasadas", enquanto os participantes e dinâmicos que estão despertos para aproveitar todas as oportunidades, são os pioneiros. Contrariamente à idéia comumente aceita, isto se aplica também àqueles que trabalham na indústria. O fato de ganhar dinheiro é uma circunstância, um incentivo. Além desse aspecto, o seu trabalho é tão ou mais espiritual que o daqueles que passam seu tempo orando em prejuízo de uma atividade útil.

 Assim, torna-se claro que o método de crescimento da alma, alcançado pelo processo da evolução, requer ação na vida física, seguido de um processo de reflexão no estado "post-mortem". Aqui, as lições da vida são extraídas e completamente incorporadas à consciência do ego, embora as experiências, em si mesmas, sejam esquecidas, do mesmo modo que esquecemos nosso esforço quando aprendemos a tabuada, embora a faculdade de utilizá-la permaneça conosco.

Este processo extremamente vagaroso e monótono está perfeitamente de acordo com as necessidades das massas. Porém, existem alguns que esgotam mais rapidamente as experiências dadas, exigindo e merecendo um campo maior para utilizar suas energias. A diferença de temperamento é a responsável pela divisão em duas classes.

 Uma classe, guiada por sua devoção a Cristo, segue os ditames do coração em seu trabalho de amor por seus semelhantes - índoles maravilhosas, tornam-se luzes de amor num mundo sofredor, nunca são movidas por motivos egoístas, mas estão sempre prontas a abdicar de seu conforto pessoal para ajudar os outros. Assim foram os santos que tanto trabalharam como rezaram, nunca se esquivando do dever e da oração. Não estão mortos hoje. A Terra seria um deserto estéril, apesar de toda sua civilização, se eles não tivessem circulado pelo mundo com mensagens de perdão, iluminando a vida dos sofredores com a luz da esperança que irradia de seus semblantes amorosos. Se eles tivessem apenas o conhecimento possuído pela outra classe, certamente não teriam ajudado tanto os que buscam o caminho para o Reino.

 A mente é a característica predominante da outra classe. Para ajudá-la em seus esforços na direção do conhecimento, as Escolas de Mistérios foram introduzidas primeiramente onde o drama do mundo estava sendo representado, para dar à alma aspirante, enquanto estava enlevada, respostas às perguntas sobre a origem e o destino da humanidade. Quando desperta, era instruída na ciência sagrada de como ascender mais seguindo o método da natureza - que é Deus em manifestação - plantando a semente da ação, meditando sobre a experiência e incorporando a moral essencial para obter, finalmente, um crescimento anímico correspondente. Com essa importante característica aprendemos que, no curso normal das coisas, uma vida inteira dedicada à semeadura e uma existência "post-mortem" dedicada à meditação e incorporação da substância anímica, farão com que este ciclo de mais ou menos mil anos possa ser reduzido a um dia, como assegura a máxima mística: "Um dia é como mil anos e mil anos como um dia". Portanto, seja qual for o trabalho executado em um único dia, se repassado à noite antes de cruzarmos o ponto neutro entre o estado de vigília e o sono, poderá ser incorporado à consciência do espírito como valioso poder anímico. Quando este exercício é executado fielmente, os pecados de cada dia assim revistos são apagados e o homem começa uma nova vida, com uma força anímica acrescentada, obtida em todos os dias de sua vida de probacionista.

 Mas! - sim, há um grande MAS; a natureza não deve ser enganada, Deus não pode ser escarnecido. "O homem colherá aquilo que semear". Não devemos pensar que uma revisão superficial dos acontecimentos de um dia, admitindo simplesmente: "gostaria de não ter feito isto", ao rever uma cena onde tenhamos feito algo evidentemente errado, salvar-nos-á das conseqüências futuras. Quando ao morrer abandonamos o corpo denso e entramos no purgatório, o panorama de nossa vida passada desenrola-se em ordem inversa, para mostrar-nos primeiro os efeitos e depois as causas de nossas ações. Aí sentimos intensamente a dor que causamos aos outros. A menos que efetuemos nossos exercícios de modo que vivamos todas as noites nosso inferno, sentindo severamente toda dor que infligimos, estes exercícios de nada valerão. Da mesma forma, devemos procurar sentir, de maneira intensa, a gratidão pela bondade que recebemos de outros e a aprovação pelo bem que tenhamos feito.

 Somente assim estaremos realmente vivendo a existência "post-mortem" e avançando cientificamente em direção à Iniciação. O maior perigo do aspirante que está trilhando esse caminho é prender-se na armadilha do egoísmo, e sua única proteção deve advir do cultivo das faculdades da fé, da devoção e da compaixão para com todos. É difícil, mas pode ser feito, e quando isto acontece, a pessoa torna-se uma maravilhosa força para o bem do mundo.

 Se o estudante ponderou bem os argumentos anteriores, provavelmente compreendeu a analogia entre o ciclo longo da evolução e os ciclos curtos ou degraus percorridos no caminho da preparação. Deve ficar bem claro que ninguém poderá fazer este trabalho "post-mortem" por nós e transmitir-nos crescimento anímico, assim como uma pessoa não pode comer o alimento físico de outra, transmitindo-lhe o sustento e o crescimento. Achamos absurdo quando um padre se propõe a diminuir a permanência de uma alma no purgatório. Então, como podemos acreditar que alguém - não importa quais as considerações feitas - possa evitar que passemos por algumas existências purgatoriais para o nosso próprio benefício e pretenda transmitir-nos a força anímica que deveríamos adquirir no curso normal da vida, até o dia que estivéssemos preparados para a Iniciação? É absurda a oferta para iniciar uma pessoa que ainda está no limiar do caminho. Devemos ter a indispensável força anímica para a Iniciação, caso contrário ninguém poderá iniciar-nos. Se tivermos essa força, estaremos nesse limiar pelos nossos próprios esforços e podemos solicitar a Iniciação como um direito que ninguém ousará refutar ou deter. Se fosse possível comprá-Ia, seria muito barato mesmo por vinte e cinco milhões de dólares, e a pessoa que a oferece por vinte e cinco dólares é tão inescrupulosa como aquela que foi lograda. Lembremo-nos que se alguém se oferece para iniciar-nos numa ordem ocultista, não importa se é chamada "Rosacruz" ou qualquer outro nome, exigindo pagamento por uma taxa de iniciação, devemos considerá-lo um impostor. Explicações de que a taxa será usada para comprar insígnias, etc., são outras evidências da natureza fraudulenta da ordem. Repito, enfaticamente, que "a Iniciação não é uma cerimônia externa, mas uma experiência interna". Posso acrescentar ainda que os Irmãos Maiores da Rosacruz no Templo Místico, onde eu recebi a Luz, impuseram a condição de que sua ciência sagrada nunca deveria ser negociada por dinheiro. Gratuitamente a recebi e gratuitamente a dou. Tenho obedecido este preceito, tanto em espírito como em tudo o que escrevo, como é do conhecimento dos que se relacionam com a Fraternidade Rosacruz.



 CAPÍTULO III

 

O Sacramento da Comunhão

Primeira Parte

 

Para obtermos um conhecimento completo do profundo e abrangente significado de como o Sacramento da Comunhão foi instituído, é necessário considerar a evolução do nosso planeta e a composição do homem, assim como a química dos alimentos e sua influência sobre a humanidade. Para elucidar melhor, recapitularemos rapidamente os Ensinamentos Rosacruzes e os vários assuntos tratados, conforme foram dados no "Conceito Rosacruz do Cosmos" e em outros trabalhos nossos.

 Os Espíritos Virginais, que hoje são a humanidade, começaram sua peregrinação através da matéria na aurora dos tempos e, pelo atrito da existência concreta, suas forças latentes puderam ser transformadas em energia motriz como força anímica utilizável. Três véus sucessivos de matéria, cada vez mais densa, foram adquiridos pelos espíritos evoluintes durante os Períodos de Saturno, Solar e Lunar. Assim, cada espírito foi separado de todos os outros, e a consciência que não podia penetrar as paredes da prisão da matéria e comunicar-se com os outros, foi forçada a interiorizar-se e, ao fazê-lo, descobriu-se A SI Mesma. Desta maneira foi obtida a consciência própria.

 Uma cristalização ulterior dos véus acima mencionados ocorreu no Período Terrestre durante as Épocas Polar, Hiperbórea e Lemúrica. Na Época Atlante, a mente foi acrescentada como um ponto focal entre o espírito e o corpo, completando a constituição do homem que ficou, então, equipado para conquistar o mundo e gerar força anímica pelo seu esforço e experiência, tendo individualmente vontade própria e livre-arbítrio, exceto quando limitado pelas leis da natureza e por suas próprias ações anteriores.

À medida que o homem em formação evoluía, grandes Hierarquias Criadoras guiavam os seus passos. Nada era deixado ao acaso. Até o alimento era escolhido, para que obtivesse daí o material necessário para construir os vários veículos de consciência necessários para realizar o processo do crescimento anímico. A Bíblia menciona essas várias etapas, embora coloque Nimrod em lugar errado ao fazê-lo simbolizar os reis da Atlântida que viveram antes do Dilúvio.

Na Época Polar, a matéria mineral pura tornou-se uma parte constituinte do homem. Assim, Adão foi feito de terra, isto é, quanto ao seu corpo denso.

 Na Época Hiperbórea, o corpo vital foi acrescentado e assim sua constituição tornou-se semelhante a de uma planta, e Caim, o homem dessa época, viveu dos frutos do solo.

 A Época Lemúrica presenciou a evolução de um corpo de desejos que fez o homem semelhante aos animais atuais. O leite, produto dos animais vivos, foi acrescentado à dieta humana. Abel era um pastor, mas em nenhum lugar consta que tenha matado um animal.

 Naquele tempo, a humanidade vivia inocente e pacificamente na atmosfera nebulosa que envolvia a Terra durante a última parte da Época Lemúrica, como está descrito no capítulo sobre o "Batismo". Os homens eram como crianças sob os cuidados de um pai comum, até que receberam a mente no início da Época Atlante. A atividade do pensamento desgasta o tecido que precisa ser reposto. Quanto mais baixo e mais materialista for o pensamento, maior será a destruição e mais premente a necessidade de albumina por meio da qual se efetuam reparos rápidos. Daí a necessidade, a mãe da invenção, de iniciar a repugnante prática de comer carne e, enquanto continuarmos com pensamentos voltados só para os negócios e puramente materialistas, temos que prosseguir usando nosso estômago como receptáculo de nossas vítimas: os corpos em decomposição dos animais assassinados. Contudo, como veremos mais adiante, a alimentação carnívora possibilitou-nos alcançar o maravilhoso progresso material no Mundo Ocidental, enquanto que os vegetarianos hindus e chineses permaneceram num estado quase primitivo. É triste saber que eles serão forçados a seguir nossos passos e verter o sangue desses animais quando nós já tivermos acabado com esta prática bárbara, da mesma forma que acabamos com o canibalismo.

 Quanto mais crescermos espiritualmente, mais nossos pensamentos se harmonizarão com o ritmo de nosso corpo, e menos albumina será necessária para reconstituir os tecidos. Conseqüentemente, uma dieta vegetariana preencherá nossas necessidades. Pitágoras pregou abstinência de vegetais aos alunos mais avançados por achar que eram ricos em albumina e reavivariam os apetites inferiores. Não vá o estudante concluir, apressadamente, que deve eliminar os vegetais de sua dieta. Muitos não estão ainda preparados para tais extremos, e nem mesmo aconselharíamos todos estudantes a absterem-se totalmente da carne. A mudança deve vir de dentro. No entanto, verificamos que a maioria das pessoas come carne demais pensando que lhe faz bem. Mas isto é uma digressão, portanto, voltemos à evolução ulterior da humanidade no que se relaciona ao Sacramento da Comunhão.

Quando a neblina densa que envolvia a Terra esfriou, condensou-se e inundou as diversas bacias, a atmosfera clareou e, em conseqüência dessa mudança atmosférica, houve uma adaptação fisiológica no homem. As fissuras em forma de brânquias, que haviam permitido que ele respirasse no ar denso carregado de água (que são vistas no feto humano até hoje), gradualmente se atrofiaram e sua função foi exercida pelos pulmões, com o ar puro entrando e saindo deles através da laringe. Isso permitiu que o espírito, confinado pelo véu da carne, pudesse expressar-se em palavras e ações.

 Foi nos meados da Época Atlante, que o Sol brilhou pela primeira vez sobre o HOMEM como o conhecemos hoje. Foi quando ele nasceu pela primeira vez no mundo. Até então, havia estado sob o controle absoluto das grandes Hierarquias espirituais, mudo, sem voz ou escolha no que se referia à sua educação, do mesmo modo que uma criança está agora sob o controle de seus pais.

 Porém, no dia em que finalmente emergiu da atmosfera densa da Atlântida - quando contemplou pela primeira vez e claramente a silhueta das montanhas e os contornos nítidos da abóbada azul-celeste; quando se deparou com a beleza das charnecas, das campinas, das criaturas que se moviam, dos pássaros no ar, e viu seu semelhante, o homem; quando sua visão se tornou clara por não mais existir aquela obscuridade parcial da nebulosa que antes embaraçava a percepção e, acima de tudo, quando tomou conhecimento de SI MESMO como ser separado e à parte de todos os outros, brotou de seus lábios o grito glorioso e triunfante, "EU SOU".

 Agora, já possuía faculdades que o possibilitavam entrar na escola da experiência, o mundo fenomenal, como um agente livre para aprender as lições da vida, sem impedimentos, exceto pelas leis da natureza e pela reação de suas próprias ações anteriores, que se converteram em destino.

 A dieta contendo um excesso de albumina proveniente da carne, com a qual se fartava, sobrecarregava seu fígado além de sua capacidade e obstruía o sistema, tornando-o moroso, obstinado e brutal. Assim, foi perdendo a visão espiritual que lhe revelava os anjos guardiães nos quais confiava, e viu somente as formas dos animais e dos homens. Os espíritos, com os quais viveu em amor e fraternidade durante o início da Época Atlante, foram obscurecidos pelo véu da carne. Tudo era muito estranho e ele os temia.

 Daí tornou-se necessário dar-lhe um novo alimento que pudesse ajudar seu espírito a dominar as moléculas de carne altamente individualizadas (como é explicado no "O Conceito Rosacruz do Cosmos"; no capítulo sobre Assimilação), apoiá-lo na batalha do mundo e estimulá-lo em sua auto-afirmação.

 Assim como nossos corpos visíveis formados de componentes químicos desenvolvem-se somente com alimentos químicos, assim também é necessário o espírito para atuar sobre o espírito, para ajudar a dissolver a pesada substância protéica e estimular o decaído espírito humano.

 O emergir da Atlântida inundada, a liberação da humanidade do governo absoluto dos visíveis guardiães sobre-humanos, sua colocação sob a Lei de Conseqüência e as Leis da Natureza, e a dádiva do VINHO são fatos descritos nas narrativas de Noé e Moisés, embora em relatos diferentes de um mesmo acontecimento.

 Tanto Noé quanto Moisés conduziram seus prosélitos através da água. Moisés clama aos céus e à terra para que testemunhem que colocou diante deles a bênção e a maldição, exorta-os a escolher o bem ou arcar com as conseqüências de seus atos. Em seguida, deixa-os.

 O fenômeno do arco-íris necessita que o Sol esteja perto do horizonte, quanto mais perto melhor, e requer uma atmosfera límpida e uma nuvem escura na parte oposta do céu. Sob tais condições, um observador que permanecer de costas para o Sol, poderá ver os raios deste astro refletidos através das gotas da chuva como um arco-íris. No início da Época Atlante, quando ainda não havia chuva e a atmosfera era uma névoa úmida e quente, através da qual o Sol parecia uma de nossas lâmpadas num dia de neblina, o fenômeno do arco-íris era uma impossibilidade. Só teve condições de aparecer quando a névoa se condensou em chuva, inundou as bacias da Terra e deixou a atmosfera clara como descrita na história de Noé, que assim aponta os ciclos da Lei de Alternância que trazem o dia e a noite, o verão e o inverno, em seqüência invariável, à qual o homem está sujeito na época atual.

 Noé cultivou a vinha e forneceu uma bebida alcoólica para estimular o homem. Dessa forma, equipado com uma constituição heterogênea, com uma dieta apropriada à ocasião e leis divinas para guiá-lo, o ser humano tornou-se responsável por suas próprias iniciativas na batalha da vida.



 CAPÍTULO IV

 

O Sacramento da Comunhão, em minha memória

Segunda Parte

 

"O Senhor Jesus, na mesma noite em que foi traído, tomou o pão em suas mãos e depois de dar graças, partiu-o e disse: Tomai e comei, isto é o MEU corpo que é partido por vós. Fazei isto em minha memória. Do mesmo modo, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no MEU sangue. Toda vez que beberdes, fazei isto em minha memória. Porque toda vez que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, peca contra o corpo e contra o sangue do Senhor... Pois quem come e bebe indignamente, come e bebe sua própria condenação... E por causa disso que há entre vós muitos doentes e fracos, e muitos dormem". I Cor: 11:23-30.

 Nas passagens anteriores existe um significado esotérico profundamente oculto, obscuro na tradução inglesa, mas em alemão, latim e grego, o estudante pode ter uma idéia do que realmente foi pretendido com a última ordem do Salvador a Seus discípulos. Antes de examinar este aspecto, vamos considerar primeiro as palavras: "em minha memória". Estaremos, então, em melhores condições para compreender o significado do "cálice" e do "pão".

 Suponhamos que um homem procedente de uma terra. distante venha ao nosso país e viaje através dele, visitando vários lugares. Por toda parte verá pequenas comunidades reunindo-se ao redor da Mesa do Senhor para celebrar o rito mais sagrado dos Cristãos. Se perguntasse por que fazem isso, eles responder-lhe-iam que é em memória d'Aquele que era a bondade e o amor personificados; d'Aquele que era o servo de todos sem se preocupar em ganhar ou perder. Se este estrangeiro comparasse a atitude dessas comunidades religiosas aos domingos na celebração deste rito, com suas vidas durante o resto da semana, o que veria?

 Cada um de nós sai para o mundo a fim de lutar bravamente pela existência. Sob a lei da necessidade, esquecemos o amor que deveria ser o fator principal nas vidas cristãs. A mão do homem está sempre contra seu irmão. Todos lutam por posição, riqueza e pelo poder que adquirem com esses atributos. Esquecem na segunda-feira, o que reverentemente relembraram no domingo. Ressentem-se disso e todos são infelizes. Fazemos também uma distinção entre o pão e o vinho que bebemos na chamada "Mesa do Senhor" e o alimento que ingerimos em outras ocasiões, nos intervalos do comparecimento à Comunhão. Porém, nada, é mencionado nas Escrituras que justifique esta distinção, como podemos verificar mesmo na versão inglesa, que omite as palavras impressas em itálico inseridas pelos tradutores para dar o que pensavam ser o sentido da passagem. Pelo contrário, é-nos dito que tudo o que comermos, bebermos ou qualquer coisa que fizermos, deverá ser feito para a glória de Deus. Todos os nossos atos deveriam ser uma oração. A "ação de graças" superficial que fazemos às refeições é, na realidade, uma blasfêmia. Um pensamento silencioso de agradecimento Àquele que nos dá o pão de cada dia é o suficiente. Devemos lembrar, à cada refeição, que o alimento retirado da substância da terra é o corpo do Espírito de Cristo que ali habita, que aquele corpo está sendo repartido para nós diariamente, e podemos, então, apreciar a bondade amorosa que O impele a dar-Se a nós. Lembremo-nos, também, que não há um momento, dia ou noite, que Ele não esteja sofrendo por estar ligado a esta Terra. Portanto, quando comemos e percebemos a verdadeira situação, estamos realmente proclamando a morte de Cristo, cujo espírito está gemendo e labutando, esperando pelo dia da libertação, quando não haverá necessidade de uma envoltura tão densa como a que necessitamos agora.

 Mas há um outro mistério, maior e mais. maravilhoso ainda, oculto nessas palavras de Cristo. Richard Wagner, com a rara intuição de um gênio musical, percebeu isto quando, sentado em meditação à beira do Lago de Zurique numa Sexta Feira Santa, sentiu brotar em seu espírito um pensamento: "Que ligação existe entre a morte do Salvador e os milhões de sementes que germinam na terra nesta época do ano?" Se meditarmos sobre a vida que anualmente brota na primavera, vemo-la como algo maravilhoso e digno de veneração. Há um fluxo de vida que transforma o globo, do inverno de uma aparente massa gelada, em vida primaveril e rejuvenescida num curto espaço de tempo. A vida que assim se propaga nos brotos de milhares e milhares de plantas, é a vida do Espírito da Terra.

 Dela vem tanto o trigo como a uva. Representam o corpo e o sangue do aprisionado Espírito da Terra, incumbido de sustentar a humanidade durante a presente fase de sua evolução. Repudiamos a alegação daqueles que julgam que o mundo lhes deve uma vida plena, sem que se esforcem por ela e onde não tenham responsabilidade material. Insistimos que existe uma responsabilidade espiritual ligada ao pão e ao vinho servidos na Ceia do Senhor: devem ser ingeridos condignamente, caso contrário, causarão enfermidades e até mesmo a morte. Superficialmente lido, poderá parecer um conceito forçado, porém, quando meditamos à luz do esoterismo, examinando outras traduções da Bíblia e observando as condições atuais do mundo, veremos que não é assim tão forçado.

 Retornemos à época em que o homem vivia sob a guarda dos anjos, construindo, inconscientemente, o corpo que agora usa. Isto foi na antiga Lemúria. Era necessário um cérebro para evolução do pensamento e uma laringe para sua expressão verbal. Portanto, metade da força criadora foi dirigida para cima e usada pelo homem para formar esses órgãos. A humanidade tornou-se assim unissexual, e foi forçada a procurar um complemento quando foi necessário criar um novo corpo para servir de instrumento numa fase mais elevada da evolução.

 Enquanto o ato do amor era consumado sob a sábia tutela dos anjos, a existência do homem estava livre de tristezas, dores e morte. Mas quando, sob a custódia dos Espíritos Lucíferos, ele comeu da árvore do Conhecimento e perpetuou a raça sem levar em conta as linhas de força interplanetárias, transgrediu a lei, e os corpos assim formados cristalizaram-se impropriamente e tornaram-se sujeitos à morte, de maneira muito mais perceptível do que haviam estado até então. Por isso, foi forçado a criar novos corpos com mais freqüência à medida que seu período de vida se encurtava. Os guardiães celestiais da força criadora expulsaram o homem do jardim do amor para o deserto do mundo, e ele tornou-se responsável por suas ações sob a lei cósmica que governa o universo. Desde então, e através das eras, vem lutando para conseguir sua própria salvação, e a Terra, em conseqüência, cristalizou-se cada vez mais.

 Hierarquias divinas, incluindo o Espírito de Cristo, trabalharam sobre a Terra externamente, assim como o espírito-grupo guia os animais sob sua proteção. Mas, como diz Paulo tão corretamente: "Ninguém pode ser justificado sob a lei, pois sob ela todos pecaram e todos devem morrer". Não existe no antigo pacto nenhuma esperança além da presente, salvo um presságio de "alguém que há de vir" e que restaurará a retidão e a justiça. Por isso, João proclama que a lei foi dada por Moisés e a graça veio através de Cristo. Mas, o que é a graça? Pode ela trabalhar contra a lei e anulá-la completamente? É evidente que não. As leis de Deus são imutáveis e firmes, caso contrário, o universo viraria um caos. A lei de gravidade mantém nossas casas em posição relativa às outras casas e, quando saímos delas, sabemos com certeza que as encontraremos no mesmo lugar ao retornarmos. Pelo mesmo princípio, todas as outras divisões no universo estão sujeitas à leis imutáveis.

 Assim como a lei separada do amor originou o pecado, assim também a lei temperada com amor tornou-se a graça. Tomemos um exemplo de nossas condições sociais concretas: temos leis que decretam uma certa penalidade para uma ofensa específica e, quando a lei é observada, chamamos isto de justiça. Porém, uma longa experiência está começando a ensinar-nos que justiça, pura e simples, é como os dentes do dragão Colchian que gera disputas e lutas cada vez maiores. O chamado criminoso permanece criminoso e torna-se cada vez mais embrutecido pelas penalidades da lei. Mas, quando um regime menos rigoroso permite que a sentença imputada àquele que transgrediu a lei seja suspensa, então ele estará sob a graça e não sob a lei. Também o cristão que procura seguir os passos do Mestre é emancipado da lei do pecado pela graça, desde que abandone o caminho do pecado.

 Este foi o pecado de nossos progenitores na antiga Lemúria, quando desperdiçaram suas sementes sem levar em conta alei é sem considerar o amor. Mas é privilégio do cristão redimir-se, pela pureza de sua vida, em memória do Senhor. João diz: "Sua semente permanece nele" e este é o. significado oculto do pão e do vinho. Na versão inglesa lemos simplesmente: "Este é o cálice do Novo Testamento", mas no alemão, a palavra que designa cálice é "Kelch" e em latim é "Calix", ambas significando a parte externa que envolve a semente da flor. Em grego temos um significado mais sutil ainda, não expresso em outras línguas, na palavra "poterion", um significado que se torna evidente quando consideramos a etimologia da palavra "pot". Isto nos dá imediatamente a mesma idéia de cálice - um receptáculo. O verbo latino "potare" (beber) também mostra que o "cálice" é um receptáculo capaz de reter um líquido. Nossas palavras inglesas "potente" e "impotente", designando possuir ou ter falta da força viril, mostra o significado desta palavra grega que indica a evolução do homem em super-homem.

 Já vivemos uma existência semelhante ao mineral, à planta e ao animal antes de nos tornarmos humanos como o somos hoje. Diante de nós existem ainda outras evoluções até aproximarmo-nos cada vez mais do Divino. Reconhecemos que são nossas paixões animais que nos retêm no caminho da realização. A natureza inferior está constantemente em luta com o Eu superior. Isto acontece com os que já experimentaram um despertar espiritual. Uma guerra está sendo travada silenciosamente no interior do aspirante e pior seria se isso fosse reprimido. Goethe, com arte magistral, exprimiu este sentimento nas palavras de Fausto, a alma aspirante, ao dirigir-se a seu amigo materialista, Wagner:

"Por um só impulso tu estás possuído,
Inconsciente do outro permaneces, ainda não o tens sentido.
Duas almas, oh! moram dentro do meu peito,
E aí lutam por um indivisível reino;
Uma aspira pela terra, com vontade apaixonada,
A íntimas entranhas ainda está ligada.
Acima das névoas, a outra aspira, de certeza,
Com ardor sagrado por esferas onde reine a pureza".

Era o conhecimento dessa necessidade absoluta de castidade (exceto quando o objetivo é a procriação) por parte daqueles que já haviam tido um despertar espiritual, que inspirou as palavras de Cristo. O Apóstolo Paulo exprimiu uma verdade esotérica quando disse que aqueles que tomam a comunhão sem viver a vida, estão em perigo de doença e morte. Assim como, sob uma tutela espiritual, a pureza de vida pode elevar o discípulo de maneira maravilhosa, assim também a incontinência produz um efeito muito maior sobre os corpos mais sensibilizados dó que sobre aqueles que estão ainda sob a lei e não se tornaram participantes da graça, pelo cálice da Nova Aliança.



 

CAPÍTULO V

 

O Sacramento do Batismo

 

Tendo estudado o significado esotérico das festividades cristãs do Natal e da Páscoa, como também a doutrina da Imaculada Concepção, dediquemos agora nossa atenção ao significado interno dos sacramentos da Igreja que são ministrados a cada pessoa em todos os países cristãos, desde o berço até o túmulo, e que fazem parte de todos os momentos importantes de sua vida.

 Logo que tem início a jornada da vida, a Igreja admite a pessoa na congregação de fiéis pelo rito do Batismo, concedido quando ainda não é responsável por si mesma. Mais tarde, quando sua mentalidade já está um pouco mais desenvolvida, confirma aquele pacto e é admitida na Comunhão, onde o pão é partido e o vinho é bebido em memória do Fundador da nossa fé. Mais adiante, depara-se com o sacramento do Matrimônio e, finalmente, quando seu caminhar na Terra expira e o espírito retorna ao céu, que o deu, o corpo terreno é entregue ao pé de onde veio, acompanhado pelas bênçãos da Igreja.

No atual Protestantismo, o espírito de protesto é excessivo ao extremo e os discordantes erguem suas vozes rebelando-se contra a arrogância ilusória do clero e desaprovam os sacramentos qualificando-os de meras fantasias. Em conseqüência dessa atitude, essas funções tornaram-se de pouco ou nenhum efeito na vida da comunidade. Divergências surgiram entre os próprios clérigos e várias seitas formaram-se e afastaram-se da congregação apostólica original.

 Apesar de todos os protestos, as várias doutrinas e sacramentos da Igreja são, contudo, as pedras angulares no arco da evolução, pois inculcam moralidade da mais elevada natureza. Até mesmo cientistas materialistas como Husley, admitiram que, enquanto a proteção efetua "a sobrevivência do mais forte" no reino animal, o que conseqüentemente é a base da evolução animal, o auto-sacrifício é o princípio sustentador do avanço humano. Se isso acontece entre simples mortais, podemos acreditar que isso deva ser assim, em extensão muito maior, no Autor Divino de nosso ser.

 Entre os animais, a força é um direito e reconhecemos que os fracos reivindicam a proteção dos fortes. A borboleta põe seus ovos no lado de baixo de uma folha verde e abandona-os sem se importar com o bem deles. Nos mamíferos, o instinto materno é fortemente desenvolvido e vemos a leoa cuidando de seus filhotes, pronta para defendê-los com sua própria vida. Somente quando o reino humano é alcançado, é que o pai começa a desempenhar plenamente sua responsabilidade de pai.

Entre os selvagens, o cuidado com os filhos termina quando estes já são capazes de se cuidarem sozinhos. Porém, quanto mais ascendemos em civilização, mais o jovem recebe cuidados de seus pais e maior esforço é dispendido na sua educação mental, para que, quando alcançar a maturidade, a luta pela vida possa ser travada com mais vantagens do ponto de vista mental do que do físico. Quanto mais avançamos no caminho da evolução, mais desenvolvemos o poder da mente sobre a matéria. Pelo prolongado e cada vez maior auto-sacrifício dos pais, a raça torna-se cada vez mais sensível e o que perdemos em rudeza material, ganhamos em percepção espiritual.

 À medida que esta faculdade desabrocha e se torna cada vez mais forte, o desejo ardente do espírito, preso neste corpo denso, busca mais intensamente a compreensão do lado espiritual de seu desenvolvimento. Wallace e Darwin, Huxley e Spencer apontaram como a evolução da forma é conseguida na natureza. Ernest Haeckel esforçou-se em resolver o enigma do universo, mas nenhum deles pôde explicar satisfatoriamente o Autor Divino daquilo que vemos. A grande deusa, a Seleção Natural, está sendo abandonada por todos à medida que os anos passam. Mesmo Haeckel, o eminente materialista, em seus últimos anos demonstrou uma ansiedade quase histérica para dar a Deus um lugar em seu sistema. Dia virá, em futuro não muito longínquo, em que a ciência tornar-se-á tão religiosa quanto a própria religião. A Igreja, embora extremamente conservadora, está abandonando, pouco a pouco, o seu dogmatismo autocrático e tornando-se mais científica em suas explicações. No devido tempo, veremos a união da ciência e da religião como existia nos antigos templos de mistérios e, quando isto acontecer, as doutrinas e sacramentos da Igreja estarão baseadas em leis cósmicas imutáveis, tão importantes quanto a lei da gravidade que mantém as órbitas em marcha nos seus trajetos ao redor do Sol. Assim como os pontos dos equinócios e solstícios são marcos decisivos no caminho cíclico de um planeta, marcados por festividades como o Natal e a Páscoa, assim também o nascimento no mundo físico, a admissão na Igreja, o matrimônio e, finalmente, a saída da vida física, são marcos no caminho cíclico do espírito humano ao redor de sua fonte central - Deus - e são caracterizados pelos sacramentos do batismo, comunhão, matrimônio e extrema unção.

 Vamos considerar agora o rito do batismo. Os dissidentes contestaram muito a prática de levar-se uma criança para a Igreja e prometer, em seu nome, uma vida religiosa. Discussões inflamadas quanto ao uso de borrifar a água ou mergulhar nela, resultaram em divisões de igrejas. Se quisermos obter a noção verdadeira do batismo, temos que retroceder aos princípios da história da raça humana, como está gravada na Memória da Natureza. Tudo que já aconteceu está indelevelmente gravado no éter, do mesmo modo que uma cena cinematográfica está impressa sobre uma película, e essa mesma cena pode ser reproduzida sobre uma tela a qualquer momento.

 Quando consultamos aquele incontestável registro, observamos que houve uma época em que a nossa Terra saiu do caos, escura e informe, como diz a Bíblia. As correntes desenvolvidas por agentes espirituais nessa nebulosa geraram calor, e a massa inflamou-se na época em que Deus pronunciou: "Faça-se a luz". O calor da massa ígnea e o espaço frio que a circundava geraram umidade; a névoa incandescente ficou cercada por água que fervia, e o vapor foi projetado na atmosfera. Assim, "Deus dividiu as águas... das águas..." - a água densa que estava mais próxima da névoa incandescente do vapor (que é água em suspensão), como está relatado na Bíblia.

 Quando a água que contém sedimento ferve, uma crosta é formada. Similarmente, a água que circundava nosso planeta formou uma crosta ao redor do centro ígneo. A Bíblia informa-nos, mais adiante, que uma névoa subiu do solo, e podemos muito bem imaginar como a umidade foi gradualmente se evaporando de nosso planeta naqueles dias longínquos.

Mitos antigos são atualmente tidos como superstições, mas, na realidade, cada um deles contém uma grande verdade espiritual em símbolos pictóricos. Estas histórias fantásticas foram dadas á humanidade infante para ensinar aos homens de então, lições morais que seus intelectos recém-nascidos não estavam ainda preparados para receber. Eram ensinados por mitos - do mesmo modo que ensinamos nossas crianças por meio de livros com ilustrações e fábulas - lições além de sua compreensão intelectual.

 Uma das mais famosas histórias desse gênero é "O Anel dos Niebelungos," que nos fala de um maravilhoso tesouro escondido sob as águas do Reno. Era uma massa de ouro em seu estado natural. Colocada sobre um alto rochedo, iluminava todo o cenário submarino, onde ninfas se exibiam inocentemente em alegres brincadeiras. Porém, um dos Niebelungos, levado pela cobiça, roubou o tesouro, tirou-o da água e fugiu. Mas, não conseguiu dar-lhe forma até que renunciasse ao amor. Então, ele o transformou num anel que lhe deu poder sobre todos os tesouros da Terra, mas, ao mesmo tempo, isso deu início à discórdia e às contendas. Por sua causa, amigo traiu amigo, irmão matou irmão, e em todos os lugares causou opressão, tristeza, pecado e morte, até que, finalmente, foi devolvido ao elemento aquoso e a terra consumiu-se em chamas. Mais tarde, como um novo fênix das cinzas da velha ave, ergueu-se um novo céu e uma nova terra onde a retidão foi restabelecida.

Esta antiga história popular dá-nos uma maravilhosa imagem da evolução humana. O nome Niebelungen é derivado das palavras alemãs Niebel (que significa névoa), e ungen (que significa filhos). Assim, a palavra Niebelungen significa filhos da névoa e refere-se à época em que a humanidade vivia na atmosfera nublada que circundava nossa Terra, no estágio de desenvolvimento previamente mencionado. Ali, a humanidade infante vivia numa grande fraternidade, inocente de todo o mal como um bebê de hoje, e iluminada pelo Espírito Universal, simbolizado pelo Ouro do Reno, que irradiava sua luz sobre as ninfas de nossa história. Com o tempo, a Terra foi ficando cada vez mais fria, a neblina condensou-se, a água inundou as depressões da terra e a atmosfera clareou. Os olhos dos homens foram abertos e ele percebeu-se como um ego separado. Então, o Espírito Universal de amor e solidariedade foi substituído pelo egoísmo e interesse próprio.

 Esse foi o roubo do Ouro do Reno. Tristeza, pecado, discórdia, traição e assassinato substituíram o amor infantil e puro que existia entre a humanidade daquela época, quando habitava a atmosfera aquosa. Atualmente, esta tendência torna-se cada vez mais marcante e a maldição do egoísmo mais aparente. "A desumanidade do homem para com o homem" pesa como uma mortalha sobre a Terra e deve, inevitavelmente, trazer a destruição das condições existentes. Toda a criação está gemendo e labutando, esperando pelo dia da redenção, e a Religião Ocidental faz soar a nota-chave do caminho da realização, quando nos exorta a amar nosso próximo como amamos a nós mesmos. Dessa forma, o egoísmo deverá ser eliminado pela fraternidade universal e pelo amor.

 Portanto, quando uma pessoa é admitida na Igreja, que é uma instituição espiritual onde o amor e a fraternidade são as molas principais da ação, é conveniente colocá-la sob as águas do batismo, como símbolo da condição de inocência infantil e do amor que prevaleceram quando a humanidade vivia sob a neblina naquele período longínquo. Nessa época, os olhos do homem infante ainda não haviam sido abertos para as vantagens materiais deste mundo. A criança que é trazida para a Igreja ainda não está desperta para as atrações da vida, e outros propõem-se a guiá-la para proporcionar-lhe uma existência santa e proveitosa. A experiência adquirida desde o Dilúvio ensinou-nos que o amplo caminho deste mundo está coberto de dor, tristeza e desilusões, e que só pelo caminho reto e estreito podemos escapar da morte e entrar na vida eterna.

Portanto, aprendamos que há um significado maravilhosamente profundo e místico atrás do sacramento do batismo, quando avaliamos as bênçãos que caem sobre os que são membros de uma fraternidade, onde o interesse próprio é abandonado e o serviço ao próximo torna-se a nota-chave e a meta principal de ação. No mundo é considerado o maior aquele que, com sucesso, procura dominar os outros. Na Igreja temos a definição de Cristo: "Aquele que quiser ser o maior entre vós, seja o servo de todos".



 

CAPÍTULO VI


O Sacramento do Matrimônio

 

Quando despojados das coisas supérfluas, os argumentos da religião Cristã ortodoxa podem ser resumidos da seguinte forma:

 Primeiro: tentados pelo demônio, nossos primeiros pais pecaram e foram exilados do seu estado anterior de bem-aventurança, colocados sob a lei, sujeitos à morte e incapazes de se libertarem disso por seus próprios esforços.

 Segundo: Deus tanto amou o mundo que enviou Cristo, Seu único Filho gerado, para sua redenção e para estabelecer o reino do céu. Assim, a morte será finalmente absorvida pela. imortalidade.

 Esta simples crença tem provocado o sorriso dos ateus, dos puramente intelectuais que estudaram filosofias transcendentais com suas sutilezas de lógica e argumentação, e até mesmo de alguns estudantes dos Ensinamentos dos Mistérios Ocidentais.

 Tal atitude é inteiramente gratuita. Deveríamos saber que os guias divinos da humanidade não deixariam que milhões de pessoas continuassem em erro por milênios. Quando os Ensinamentos dos Mistérios Ocidentais se despojam de explicações excessivas .e de descrições detalhadas, e quando seus ensinamentos básicos são expostos, vemos que estão em exata concordância com os dos cristãos ortodoxos.

 Quando a humanidade vivia em estado livre de pecado, a tristeza, a dor e a morte eram desconhecidas. O tentador pessoal da Cristandade não é um mito. Podemos seguramente dizer que os espíritos Lucíferos são anjos caídos, e a tentação que exercem no homem resultou na focalização da consciência deste na fase material da existência, onde está sob a lei da decrepitude e da morte. Igualmente verdadeira é a missão de Cristo no auxílio à humanidade, elevando-a a um estado mais etérico, onde a dissolução não mais será necessária para livrá-la dos veículos que se tornaram muito pesados para uso futuro. O que temos agora é um "corpo de morte", onde só uma ínfima quantidade de material está realmente viva, visto que parte de seu volume é matéria nutriente que ainda não foi assimilada. Outra grande parte vai ser eliminada, e só entre estes dois pólos é que pode ser encontrado o material que é totalmente vivificado pelo espírito.

 Em outros capítulos consideramos o sacramento do batismo e da comunhão, que estão muito ligados ao espírito. Vamos agora procurar entender o lado mais profundo do sacramento do matrimônio, que tem especial ligação com o corpo. Como os outros sacramentos, a instituição do matrimônio teve seu começo e também terá seu fim. Seu início foi descrito por Cristo quando Ele disse: "Não tendes lido que o Criador desde o princípio, os fez homem e mulher?" E disse: "Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne. Por isso não mais são dois, mas uma só carne". Mateus, 19:4-6. Ele indicou também, o fim do matrimônio ao dizer: "Na ressurreição, nem os homens terão mulheres, nem as mulheres maridos, mas serão como os anjos de Deus no Céu". Mateus, 22:30.

 Sob esta luz, a lógica do ensinamento é evidente, pois o matrimônio tornou-se necessário para que o nascimento pudesse proporcionar novos instrumentos para substituir os que foram desfeitos pela morte. Quando a morte for absorvida pela imortalidade e não houver necessidade de novos instrumentos, o matrimônio será, em conseqüência, desnecessário.

 A ciência, com admirável audácia, tem tentado resolver o mistério da fecundação e já desvendou como a invaginação se processa dentro das paredes do ovário, como o pequeno óvulo é formado na reclusão de sua cavidade escura, como emerge daí e entra na trompa de Falópio, é penetrado pelo espermatozóide do homem e o núcleo de um corpo humano torna-se completo. Supomos que assim seja a "fonte e origem da vida". Mas a vida não tem começo nem fim, e o que a ciência erradamente considera a fonte da vida é, na realidade, a fonte da morte, pois tudo que vem do útero está destinado, mais cedo ou mais tarde, a terminar no túmulo. A festa do matrimônio, que antecede o ato da geração, e a do nascimento, igualmente fornecem alimento para a ceifa insaciável da morte. Enquanto o matrimônio for necessário para tal fim, a desintegração e a morte serão os resultados inevitáveis. Portanto, é de suma importância conhecer a história do matrimônio, suas leis, as atividades envolvidas, a duração dessa instituição e como pode ser transcendida.

 Quando obtivemos nossos corpos vitais na Época Hiperbórea, o Sol, a Lua e a Terra ainda estavam unidas e as forças solares-lunares permeavam cada ser em proporção igual, de maneira que todos eram capazes de perpetuar sua espécie através de brotos e esporos como fazem certas plantas atuais. Os esforços do corpo vital para suavizar o veículo denso e conservá-lo vivo, em nada interferia nele, e estes corpos primitivos, semelhantes à planta, viveram por muitas eras. O homem era, então, inconsciente e estacionário como uma planta; não fazia nenhum esforço, nem se empenhava nisso. O acréscimo de um corpo de desejos forneceu incentivo e desejo, e a consciência resultou da luta entre o corpo vital que constrói, e o corpo de desejos que destrói o corpo denso.

 Assim, a dissolução tornou-se apenas uma questão de tempo, principalmente porque a energia construtiva do corpo vital foi também dividida, sendo que uma parte ou pólo foi usada nas funções vitais do corpo e a outra serviu para substituir o veículo destruído pela morte. Mas, como os dois pólos de um ímã ou dínamo são requisitos para a manifestação, assim também dois seres unissexuais tornaram-se necessários para a geração. Dessa forma, o matrimônio e o nascimento foram necessariamente instituídos para compensar o efeito da morte. A morte, então, é o preço que pagamos pela consciência no mundo atual. O matrimônio e os repetidos nascimentos são nossas armas contra a morte, até que nossa constituição mude e nós sejamos como os anjos.

 Isto não quer dizer que vamos ser anjos, mas que chegaremos a ser como os anjos. Eles são a humanidade do Período Lunar e pertencem a uma corrente de evolução totalmente diferente da nossa, tão diferente como os espíritos humanos o são dos animais atuais. Paulo diz, em sua carta aos Hebreus, que o homem foi feito por pouco tempo inferior aos anjos, que desceu mais baixo na escala de materialidade durante o Período Terrestre, enquanto os anjos nunca habitaram um globo mais denso que o éter. Da mesma maneira que construímos nossos corpos com os constituintes químicos da terra, os anjos constroem os seus corpos com éter. Esta substância é o caminho direto de todas as forças de vida, e quando o homem, conseguir tornar-se igual aos anjos e aprender a construir seu corpo com éter, é evidente que não haverá mais morte e nem necessidade do matrimônio para efetuar nascimentos.

 Porém, considerando o matrimônio sob outro ponto de vista, como uma união de almas mais do que uma união de sexos, entramos em contato com o maravilhoso mistério do amor. Naturalmente, a união dos sexos pode servir para perpetuar a raça, mas o verdadeiro matrimônio é também um companheirismo de almas que, de modo geral, transcende o sexo. Aqueles que realmente alcançam este sublime plano de intimidade espiritual, alegremente entregam seus corpos como sacrifícios vivos no altar do Amor ao não nascido, permitindo que o espírito que vai renascer, habite um corpo imaculadamente concebido. Deste modo, a humanidade poderá ser salva do reinado da morte.

 Isto é facilmente compreendido, quando consideramos a ação suave do corpo vital em contraste com o do corpo de desejos num acesso de raiva, quando se diz que um homem "perdeu o auto-controle". Sob tais condições, os músculos tornam-se tensos e a energia nervosa é gasta em grau suicida, de maneira que, depois de tal explosão., o corpo pode ficar prostrado por várias semanas. Um trabalho, por mais árduo que seja, não traz a fadiga proporcionada por um acesso de cólera. Do mesmo modo, uma criança concebida sob paixão, sob as tendências cristalizantes da natureza do desejo terá, certamente, uma existência curta. É lamentável que duração de vida seja, hoje em dia, uma expressão erradamente usada, pois, em vista da espantosa mortalidade infantil, devíamos dizer brevidade de existência.

 As tendências construtivas do corpo vital, que é o veículo do amor, não são tão facilmente consideradas, porém, essa observação prova que a satisfação prolonga a vida daquele que cultiva esta qualidade, e podemos seguramente pensar que uma criança concebida em condições de harmonia e amor, terá uma melhor oportunidade de vida do que aquela concebida sob sentimentos de raiva, paixão e até embriaguez.

 De acordo com o Gênesis foi dito à mulher: "Darás à luz com dor teus filhos". Tem sido um delicado enigma para aqueles que comentam a Bíblia explicar que conexão lógica poderá existir entre o ato de comer uma fruta e as dores do parto. Quando compreendemos as referências da Bíblia ao ato de geração, percebe-se prontamente essa conexão. Enquanto a mãe negra ou a índia dão à luz e voltam logo aos seus trabalhos no campo, a mulher ocidental, mais sensível e de temperamento mais nervoso, a cada ano que passa acha mais difícil desempenhar a tarefa da maternidade, embora auxiliada pelas melhores e mais sofisticadas ajudas científicas.

 As razões que contribuem para isso são várias: em primeiro lugar, enquanto insistimos no "pedigree" dos animais para que possamos obter a melhor linhagem, não agimos com tanto cuidado com respeito à escolha de um pai ou uma mãe para nossos filhos. Unimo-nos por impulso e depois nos lastimamos e arrependemo-nos, auxiliados por leis que tornam muito fácil entrar ou sair dos laços sagrados do matrimônio. As palavras pronunciadas pelos ministros ou juízes são tomadas como permissão para uma indulgência sem limites, como se qualquer lei feita pelo homem pudesse permitir a contravenção da lei de Deus. Enquanto os animais se cruzam somente em certas épocas do ano e a mãe não é molestada durante o período" de gravidez, o mesmo não acontece com a raça humana.

 Tendo em vista estes fatos, não é de estranhar que encontremos tanto medo da maternidade. Já não é tempo de solucionar este problema através de uma relação mais sã entre os cônjuges? A astrologia revelará o temperamento e as tendências de cada ser humano; ela capacitará duas pessoas a combinarem suas personalidades de tal maneira que uma vida de amor possa ser vivida, e indicará os períodos em que as linhas de força interplanetárias estão mais propícias para um parto sem dor. Assim, a astrologia permite-nos tirar das entranhas da natureza crianças nascidas do amor, capazes de viver longas vidas com excelente saúde. Finalmente, chegará o dia em que estes corpos serão feitos com tal perfeição em sua pureza etérica, que perdurarão do começo ao fim da próxima Era, tornando assim supérfluo o matrimônio.

 Se o amor é possível agora, quando nos vemos um ao outro "obscuramente, como por espelho" através da máscara da personalidade e do véu da incompreensão, mais convictos estamos de que o amor da alma para alma, purificado de paixão no crisol do sofrimento, será nossa jóia mais preciosa e brilhante no céu, assim como o peso de sua sombra está agora na Terra.